terça-feira, 9 de agosto de 2016

Venha para a água!



A teoria é belíssima,  mas quase sempre nos parece impossível de ser aplicada.


Isso porque foi desenvolvida por avatares, seres iluminados, mais espiritualizados, que - certamente - desconhecem a rotina dos humanos reais. Afinal, isso aqui não é fácil!


Somos bons leitores, mas pequenos demais para colocar em prática os ensinamentos. 


Ontem uma dessas crenças se desmantelou dentro de um abraço.


Santo Agostinho dizia que só há três tempos possíveis: o presente do passado, o presente do presente e o presente do futuro. Ou seja, que passado (memória) e futuro (espera) só podem ser medidos no presente, só existem no presente.


A inexistência de passado e futuro vem sendo tratada por diversas escolas filosóficas, religiosas e científicas. Mas, como a nossa percepção é seletiva, insistimos em carregar pesos e expectativas nas costas. Caminhamos reclamando do peso o tempo todo, mas não soltamos. Quanta energia desperdiçamos ao arrastar conosco tanta inutilidade.


Vejo como caminhantes em uma estrada de chão em um dia escaldante. Muitas mochilas, muita sujeira. Eles ouvem algo ao longe e percebem que há um rio que acompanha a estrada. Nele há pessoas se divertindo, descendo com a correnteza, sem mochilas, sem penduricalhos, sem medo de se afogar, sem se preocupar com a próxima parada.


Que malucos! Descontrolados! Eles não sabem que para se chegar a algum lugar é preciso planejar, se organizar? Cadê as coisas deles? Não levam consigo as memórias? Certamente voltarão a falhar, pois não levam consigo a lista dos erros que cometeram. Filho, fique longe deles, péssima influência.


Por que alguns soltam? Por que alguns parecem tão livres, tão presentes, tão entregues? Por que são tão confiantes? O que eles sabem, que as outras pessoas ainda não descobriram?


Eles descobriram Deus e entregaram a Ele toda a sua bagagem. Eles descobriram que são a manifestação do passado e do futuro no agora. Eles descobriram que carregar o passado não evita que os mesmos erros sejam cometidos - muito pelo contrário, produz um padrão de comportamento repetitivo, reflexo. Eles descobriram que a tentativa de estar no controle, de executar o próprio planejamento (caminhantes na estrada), apenas impede que o planejamento divino se revele em sua infinita beleza e fluidez (loucos nadadores).


Ontem eu finalmente absorvi o aprendizado (cuja teoria eu já conhecia nos mais diversos formatos): não existe passado, o que existem são apenas as memórias do que vivemos - e elas só existem dentro da nossa cabeça.


Então eu recebi um abraço que, em espiral, acolheu o meu ser em todas as situações de desamparo já vividas. Um colo amoroso resgatou todos os momentos em que faltou o abraço, a cumplicidade, o respeito. Eu revivi aqueles momentos abraçada em um ser de infinito amor, a verdadeira personificação a Mãe Divina.


Não te enviei senão anjos, disse Deus em Um Conto Francês, de Neale Donald Walsch.


Entregue a Deus a sua bagagem e venha para a água! No começo ela parece fria e você se sente sozinho, mas depois descobre que a estrada que era quente, pesada e cheia demais. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário