quinta-feira, 22 de junho de 2017

Ah, Saturno!



Eu li diversas vezes que o ano de 2017 seria regido por Saturno. Também li sobre as implicações desse novo ciclo.

Mas não há nada como a experiência.

Apesar do apelo coletivo trazido pelo novo ciclo (pois finalizado o ciclo “egóico” regido pelo Sol), é na individualidade que eu tenho sentido a austeridade de Saturno, expondo, sem rodeios e de forma bastante objetiva, a minha realidade: os fatos.

Como se todas as historinhas que eu contava (e ainda conto) para mim mesma viessem com uma legenda: essa não é uma história verídica!

Quantas justificativas! Quantas desculpas! Quantos culpados!

Faz muito sentido.

Numerologicamente e astrologicamente 2016 foi um ano de encerramento e 2017 está sendo um ano de inícios. Saindo do individual e partindo para o coletivo. Saindo do ego e partindo para o coletivo.

Necessário e indispensável que haja, no meio do caminho, um ponto em que nos enxergamos sem máscaras e assumimos a responsabilidade pelas circunstâncias nas quais nos encontramos, para que possamos, então, começar a criar com mais maturidade e com foco no coletivo – afinal, não podemos oferecer o que não temos.

Certa vez eu li que uma das diferenças da terceira dimensão para as dimensões superiores era o tempo de espera para a materialização das nossas criações. Na terceira dimensão, dizia o texto, a maturação leva mais tempo e exige mais determinação – o que, por outro lado, concede-nos tempo para o arrependimento, evitando que criações negativas tomem forma. Assim, aprenderíamos a ser criadores conscientes e poderíamos elevar a nossa frequência, acessando dimensões superiores, nas quais a manifestação aconteceria de forma imediata.

Uma preparação e, ao mesmo tempo, uma oportunidade grandiosa de expansão da consciência.

Ainda que sob muitos véus de esquecimento, estamos nos assumindo criadores soberanos da nossa realidade, responsáveis e capazes.

Fomos, nós, individualmente, o nosso próprio laboratório, sem saber que já estávamos abrindo o caminho para os que nos acompanhavam e nos observavam.

Passamos de ovelha negra a exemplo em nossos meios, o que fizemos com a leveza e a certeza de que não era necessário submeter-se aos dogmas, às imposições sociais, religiosas e familiares.

Daqui para frente, como uma verdadeira personificação de Saturno – o pai amoroso e exigente -, precisamos levar adiante a experiência, distribuir conhecimento, irradiar unidade, empoderamento e segurança para os que, ainda meio cambaleantes, iniciam a jornada.

“Somos um”. Essa expressão nunca fez tanto sentido.

Um.


Om.

terça-feira, 20 de junho de 2017

A força da honestidade






Falhamos tanto com a honestidade. Tanto.


Esse tema tem sido recorrente nas redes sociais, com os mais diversos nomes. Mas ler é uma coisa, conseguir trazer para dentro das nossas relações é outra.


Durante o final de semana, uma das minhas Marias compartilhou reflexões de uma palestra dobre Comunicação Não-Violenta. Uma delas dizia:


“as pessoas sabem o que são fatos nas relações, mas existe um código silencioso sobre não expressar verdades inconvenientes. Isso é o que fragiliza as conexões pois pontes genuínas de confiança nunca são construídas. A verdade mexe, bagunça, gera mudança. Verdade é movimento. Assim, quando a gente deixa de falar a verdade sobre o que nos importa, nossas necessidades (aquilo que nunca deve cessar) e valores, a gente vai morrendo aos poucos.” Dominic Barter



A honestidade está diretamente ligada à comunicação não-violenta.


Trata-se de permitir que a sinceridade e a transparência guiem os nossos relacionamentos, expondo a nossa percepção pessoal de forma objetiva. 


Mas será que as pessoas realmente querem saber como nos sentimos? Será que as pessoas conseguem lidar com o reflexo delas em nós?


Ou pior, será que já não conhecem e fingem não saber, porque torna a situação cômoda? Pois, como disse Dominic, a verdade mexe, bagunça, gera mudança.


A zona de conforto pode ser muito violenta. 


Nela emudecem-se os nossos conflitos e insatisfações. Nela cala-se a raiva e a frustração. Nela sacrifica-se o impulso mais puro da essência: o movimento!


Para mim, hoje, viver a honestidade tem um viés de egoísmo necessário.


Não se trata de despejar no(s) outro(s) a responsabilidade pela nossa satisfação pessoal, mas de permitir (e talvez exigir) que o nosso sentimento seja conhecido – o que viabiliza o crescimento mútuo, o que serve de combustível para as metamorfoses necessárias.


Somente a verdade nos permite crescer.


Quando nos calamos, quando deixamos de nos manifestar, quando não verbalizamos, praticamos, antes, uma violência contra nós mesmos.


Prendemos dentro de nós uma energia que não deseja ficar, ao mesmo tempo em que tiramos do outro o direito de saber como nos sentimos em relação às suas atitudes.


Criamos abismos profundos e carregamos conosco pedaços de relacionamentos mal resolvidos, assuntos que não tratamos, palavras que não engolimos – outras que não falamos.


Quantas e quantas vezes retornamos a algumas situações vividas e pensamos: “ah, mas se eu tivesse dito”, “por que eu não disse?”, “deveria ter falado”, “deveria ter feito”. 


Perdemos a espontaneidade em busca de aprovação. Puro medo. Pura necessidade de pertencimento.


(In)felizmente, aviso, não há garantias e nada será levado conosco – a não ser o que foi vivido com verdade, com emoção, com aprendizado.


Quanto tempo perdido: estamos aqui para nos relacionarmos, mas acabamos vivendo peças teatrais.


Desconhecemos os nossos próprios sentimentos.


Desconhecemos o caminho do coração.


Perdemos a habilidade de trocar com autenticidade, a ponto de considerarmos ofensivas as investidas de honestidade do outro, fazendo com que se cale, mantendo estática e segura a relação.


Eu quero falar sobre isso.


Eu quero falar sobre as minhas experiências.


Eu quero falar com todas as pessoas que eu deixei que me machucassem.


Eu quero falar com todas as pessoas que me ofereceram amor e eu não soube receber.


Eu preciso falar. Eu preciso ouvir.



O coração está exposto e, para ele, a violência reside em privá-lo de se emocionar.

A couraça não me serve mais.

sábado, 10 de junho de 2017

Está na hora de parir a si mesma!



Quando foi a última vez que você soltou a sua barriga?

Essa foi uma das perguntas feitas pela amada Anna Sazanoff em um temazcal só de mulheres. E essa pergunta não saiu da minha cabeça.

Damos tanta importância para o que vem de fora (para as opiniões, as expectativas), que cortamos completamente a comunicação com o nosso interior, com a nossa essência, com a nossa feminilidade.

Sim, nós contraímos a barriga. Comprimimos o nosso útero, o nosso centro de força, de criatividade, de generosidade.

Sim, nós tiramos 15 fotos até conseguir escolher uma que revele a nossa melhor face, o nosso melhor ângulo. Como se as pessoas que nos conhecem fossem se importar com a nossa assimetria, já que a elas oferecemos toda a nossa beleza: o cuidado, o amor, a troca, o abraço, o sorriso.

Sim, nós comemos folhas e proteínas, morrendo de vontade de comer um nhoque carbonara. Não percebemos que tudo o que ingerimos a título de sacrifício não satisfaz o corpo, nem a alma. Interiorizamos o nosso próprio mau humor e azedamos mais a cada quilo que perdemos.

Sim, nós nos maquiamos para amenizar as manchas, as cicatrizes, os microvasinhos, os cravos, as espinhas, as rugas. Escondemos todos esses sinais do corpo, todas as marcas de vida.

Por que? Quem impõe à mulher a ditadura da "perfeição" e para que? Qual é o benefício de eu me encaixar no padrão? Isso trará segurança? Isso será garantia de felicidade?

Eu me fiz essas perguntas há muito tempo. 

Eu percebi que a mulher, quando em contato com a sua própria natureza, é muito poderosa. Ela é posicionada, empoderada, dona da sua própria vida. Ela sustenta todas as suas escolhas.

Senti isso no meu corpo, em todas as minhas células. Senti como se eu estivesse parindo a mim mesma, dando passagem à mulher que eu prendia nas minhas entranhas.

Comecei a observar as mulheres à minha volta e, como num passe de mágica, a minha noção de beleza e de perfeição mudaram completamente.

Bela é a mulher satisfeita, que assume responsabilidade pela própria vida: que está onde quer, com quem quer, fazendo o que quer, comendo o que quer, dançando como quer.

Perfeita é a mulher generosa, divertida, leve, flexível, conversadora de todos os assuntos. A mulher que se acolhe como é e que recebe o outro como ele é.

É essa a mulher que eu quero que os meus filhos conheçam. É essa a mulher que eu quero que os meus filhos admirem. É essa a semente que eu estou plantando.

Não há padrão. Não há estereótipo.

Há, apenas, o respeito à essência. Vida bem vivida.

Como podemos nos respeitar hoje? Qual é o movimento que só você pode fazer por você mesma?

"Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade."
Frida Kahlo

Talita Rebello
10.06.2016

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Sobre a crença do merecimento




Um dia, no meio de uma vivência, perguntaram para mim: como pode, uma mulher que inspira tantas outras (mais velhas e mais novas), estar fragmentada desse jeito?

Naquele momento eu não tinha a menor condição de compreender o que essa pergunta queria dizer.

Aos poucos ela foi fazendo sentido: algumas das minhas “qualidades” eram muito nocivas.

Dócil, flexível, adaptável, pacífica.

Com a ideia primordial de que a harmonia deveria ser mantida a qualquer custo, eu me calava, eu não me insurgia, eu me adaptava.

As qualidades – por todos tão valorizadas – eram parte da construção de um personagem que eu mesma desconhecia, pois com ele eu me identificava intimamente.

Afinal, quem não amaria essa menina engraçada, bem humorada, dócil, cordata, inteligente? Era um lugar bastante seguro.

Comecei a prestar atenção nos meus diálogos internos. Cada vez que eu me calava diante de uma situação, eu resmungava comigo mesma. Cada vez que eu cedia aos planos dos outros (deixando os meus para amanhã), eu me criticava. Cada vez que eu expressava maturidade (morrendo de vontade de cair em posição fetal e chorar), eu me flagelava por dentro.

A ideia de que assim eu agia para manter a harmonia era falsa. Eu agia assim por medo.

Medo de não ser amada como eu era.

Medo de não ser suficiente apenas por ser.

Medo de não ser necessária.

Medo de não ser querida.

Afinal, eu precisava fazer por merecer.

A tão falada crença do merecimento fez com que eu criasse um abismo entre mim e os meus relacionamentos.

Fez com que eu terceirizasse responsabilidades que eram apenas minhas, culpando as pessoas por tudo o que eu deixei de fazer “em busca da harmonia”, mas, no fundo, era o mais profundo medo de deixar de ser amada por ir na contramão das expectativas dos outros.

E, então, eu percebi que eu sentia raiva. Eu com raiva? Meu Deus, não era possível, isso era inaceitável.

Custou para que eu acolhesse esse sentimento. Custou para que eu admitisse que eu era a única responsável por tudo o que eu deixei de viver, por todos os sapos que eu engoli, por todas as vontades que eu passei, por todas as festas que eu não fui, por todas as viagens que eu não fiz, por abrir mão de amizades.

Toda aquela raiva, então, era de mim mesma.

Não havia mais ninguém para culpar.

Finalmente caí de joelhos e me entreguei à dor de ter falhado comigo mesma, enquanto acertava com todas as outras pessoas.

Eu me entregue à dor de ter sido permissiva.

Eu me entreguei à dor da mais profunda carência.

Eu me entreguei à dor do medo infantil de não ser merecedora.

Eu me entreguei à dor de não mais saber quem eu era – sim, eu estava violentamente fragmentada! Violentamente! Havia tantos pedaços de mim a serem acolhidos, resgatados, ressignificados.

Chorei em posição fetal, como tantas vezes o meu corpo pediu. Curvei-me diante de todos os seres que, nessa vida, colaboraram para que eu aprendesse sobre autoestima, sobre posicionamento, sobre empoderamento, sobre autorresponsabilidade.

Abri o meu coração e vomitei todas as minhas dores. Alto, para todo mundo ouvir. Gritei com todas as forças que a Talita, agora, não mais se calaria.

Mas, afinal, quem é Talita? Eu não sei. E não saber é muito libertador.

O meu único compromisso é deixar florescer os sonhos que o Criador plantou em mim.
Novamente, florescendo no meu altar.

terça-feira, 6 de junho de 2017

A perfeição do ser!






Passei uns dias na Chapada dos Veadeiros. Melhor: durante alguns dias, eu vivi a Chapada dos Veadeiros.

Viajei sozinha. Foi a minha primeira vez. E foi muito desejada. 

Chego a dizer que foi a materialização de um sonho vivido a dois: por mim e por ela (que me chamava com muita insistência).

Eu estava completamente entregue, sem planos, sem expectativas. Poderia, apenas, sentar-me todos os dias e apreciar a paisagem. De dia e de noite. Eu e ela.

Lá eu conheci o mais profundo significado da palavra comunhão: TOMAR PARTE.

A natureza era esplendorosa: doce e feroz, calma e agitada, rasa e profunda. Mas, garanto, era ainda mais linda e plena quando éramos uma só paisagem.

Não seria tão linda se não houvesse rochas; não seria tão linda se não houvesse água; não seria tão linda se não houvesse vegetais; não seria tão linda se o vento não fizesse voar as partículas de água, formando, com os raios de sol, lindos arco-íris; não seria tão linda se não houvesse, lá, a Talita, em profunda simbiose, em fusão com o meio, emocionada, contemplativa, aberta ao mais puro receber.

Eu fui cachoeiras e águas calmas. Fui pedras e cristais. Fui Chapadas imensas. Fui vento. Fui muitas estrelas – confesso, fui a própria Via-Láctea.

A minha autenticidade e a minha entrega ao fluxo eram premiadas com conexões incríveis. Mostraram-me, vez por todas, que o respeito à própria essência é a chave mestra do caminho escolhido pela alma.

Não vi, senão beleza.

Não senti, senão pertencimento.

Não encontrei, senão irmãos.

Somos divinos. Somos amados e amparados. Somos parte (mas, sem nós, não há o “todo”). Somos o Todo.

Precisamos parar de fazer força. Esforçamo-nos tanto para ser alguma coisa, por que não nós mesmos? 

Quanta energia desperdiçada na manutenção de papéis sociais, personas, personagens. 

Quanta energia desperdiçada com apegos.

Quanta miséria afetiva.

Percebem quanto alimento oferecemos ao nosso eu sofredor, à nossa criança ferida?

Dentro de cada um existe uma criança que só precisa saber-se integralmente amada pelo que é (não pelo que pode vir a ser, não por quem é quando obedece, não por quem é quando atinge expectativas, não por tirar notas excelentes, não por estar bem vestida). 

Ela quer se sentir segura, brincar até cansar e, quem sabe, dormir sem tomar banho. 

Ela quer ser abraçada e olhada com cumplicidade.

Ela quer se desenvolver naturalmente, sem ser comparada, sem ser estandardizada, sem precisar se encaixar em um molde.

Olhe-se no espelho e ofereça a si mesmo aquele olhar pelo qual você vem esperando a vida toda – ninguém vai fazer isso enquanto você não fizer.

Aceite-se, acolha-se, ame-se. Ofereça-se integralmente a si mesmo. Dê o seu melhor ao seu bem estar, à sua felicidade, à sua plenitude.

Aos outros? Extravase! Derrame! Irradie! 

Chegou a hora de descobrir a imensidão de ser quem é.

* créditos da foto: Bárbara Zandomenico Perito