terça-feira, 29 de maio de 2018

Quando tudo tem voz




Começo com Maria Madalena:

Eu gostaria que você tivesse uma compreensão do seu parceiro, especialmente para entender a dor específica do sexo oposto. A ferida ou a dor são diferentes nos homens e nas mulheres. Os homens tornaram-se estranhos ao seu próprio lado sentimental, sua própria natureza feminina. Eles anseiam por uma conexão verdadeira. E as mulheres precisam se conectar com seu próprio poder e autoestima novamente. Os homens podem ajudar as mulheres a fazer isto, mostrando-lhes a verdadeira beleza e força delas. As mulheres podem ajudar os homens, perdoando-os e assumindo a responsabilidade por si mesmas. Pode haver uma interação tão bonita entre homens e mulheres!
Embora o caminho espiritual consista basicamente em curar a si mesmo, está na hora de darem-se as mãos para construírem pontes entre homens e mulheres. Ao terem verdadeira compaixão e compreensão um pelo outro, vocês também curam verdadeiramente a si próprios. Vocês se elevam acima da velha batalha e, permitem que a área da sexualidade volte a ser uma área de alegria e companheirismo. (...)
Homens e mulheres estão realmente procurando restabelecer a conexão verdadeira uns com os outros. Existe um peso sobre todos vocês, mas também um grande potencial de cura.


Essa conexão verdadeira é o nosso mais puro desejo (ainda que inconsciente), mas a sua realização passa por um processo complexo de crescimento individual, de auto-observação, de quebra de padrões, de autorresponsabilização, de ressignificação, de reforma.

É o momento em que transcendemos a situação retratada pela carta dos enamorados do tarô. É o momento em que saímos do espaço da dúvida e adentramos o campo da criação de uma nova vida.

E, de repente, descobrimos que essa conexão não vai acontecer quando estivermos, finalmente, curados. Ela aconteceu no momento em que, conscientemente, compreendemos as possibilidades de crescimento e decidimos ingressar nessa jornada.

A partir de então, é como se vivêssemos muitas vidas em uma só. Uma espiral que nos coloca ora de um lado, ora de outro, permitindo que experienciemos o ativo e o passivo de cada possibilidade.

Essa semana eu senti uma profunda insegurança em relação ao meu relacionamento.

Eu tenho consciência de que quanto mais eu deixo o papel “daquela que agrada” e falo a minha verdade - estabeleço os meus limites-, mais vezes eu passo pelo campo do medo do abandono.

Algumas vezes eu atravesso esse campo com confiança, outras eu o atravesso com 12 anos, arrastando o meu taco de bets preferido.

Isso me lembra Jeshua:

A área dos três chakras inferiores é a mais importante para a auto-cura e o crescimento interior. O maior desafio espiritual para vocês agora é cuidar desta área ferida em si mesmos. Meditar e se conectar com os níveis cósmicos, dentro e fora de vocês não é a sua meta principal agora. A sua meta principal agora é oferecer a compreensão mais gentil e o apoio mais amoroso para a criança interior dentro de vocês, e restaurar a beleza e a alegria dela. Esta é a sua jornada espiritual, e nela encontra-se o seu maior tesouro. Cuidar e respeitar o lado humano de vocês, a parte criança de vocês, é a sua estrada para a divina compaixão e iluminação.

Não há fatores externos, apenas fatores internos que são trazidos à luz da consciência.

Conhecendo o meu movimento, decidi iniciar, mais uma vez, o processo de assimilação e ressignificação desse sentimento. Lembrei de uma frase de Dêva, um índio Guarani que cruzou o meu caminho: “a alma precisa estar bem, para que o corpo e a mente sejam curados”. Por isso, eles sempre iniciam qualquer trabalho reverenciando o Reino Vegetal, pedindo proteção e auxílio para a limpeza dos campos mais sutis.

Assim eu fiz. Preparei um banho com sálvia, manjericão, abre-caminho, aroeira, guiné, hortelã e lavanda. Enquanto eu macerava as ervas com as minhas mãos, eu intencionava a limpeza dos meus corpos, a proteção e a necessária abertura de consciência para que eu pudesse passar por essa situação por meio de uma compreensão ainda mais elevada.

Apaguei a luz e entrei no banho. A luz cheia estava linda e iluminava todo o banheiro.
Então uma música veio à minha mente: caboclo Tupinambá. Era a hora de começar o banho de ervas.

Nesse exato momento um gambá subiu no telhado que fica abaixo da janela do banheiro (eu nunca tinha visto um gambá na minha casa). Ele ficou lá o tempo exato do banho de ervas, então desceu.

Eis o significado do gambá para o xamanismo:

É a medicina do campo de proteção. Evocar quando precisa mudar de pontos de vistas ultrapassados, para quebrar paradigmas e encontrar novas formas de ver a mesma coisa. Se proteger estabelecendo limites para evitar violência e confrontos. Agir com estratégia.

Eu não canso de me surpreender com as sutilezas do Universo. Tudo conversa: dimensões, reinos, corpos, intenções. Só precisamos ouvir.

http://www.jeshua.net/por/newage/newage12.htm
http://www.jeshua.net/por/healing/healing5por.htm

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Vá e faça novas todas as coisas




“Porque narciso acha feio o que não é espelho...”

Faz pouco tempo que a minha compreensão sobre essa frase se ampliou e me fez questionar todos os “eu te amo” que eu já falei.

Pareceu-me que, na maioria das vezes – e talvez por toda uma existência –, nós amamos apenas o nosso reflexo no outro.

Amamos quando nos reconhecemos no outro. Amamos quando o outro age dentro da nossa expectativa. Amamos quando o outro é uma projeção de nós mesmos.

Nós amamos e alimentamos uma holografia, uma ilusão, uma falsa sensação de segurança.

Cavamos abismos com as nossas próprias mãos e sabotamos todas as nossas relações. Perdemos a chance de crescer por meio do amor e da verdade – escolhendo a dor da desconexão com a própria essência (quiçá com os outros).

Somos incapazes de ouvir a verdade do outro sem agredi-lo, sem fazer drama ou sem entrar em processo de vitimização, bloqueando o fluxo do aprendizado que se dá com o acolhimento, com a compreensão, com o “olhar na mesma direção” (em vez de calçar os sapatos do outro, exigimos a presença do outro nos nossos sapatos).

Tocamos o mundo do outro com egoísmo e desrespeito.

Penso que talvez não tenhamos conseguido interiorizar o fato de que vivemos em um universo amoroso e divinamente orquestrado: ninguém está por acaso e ninguém permanecerá mais do que for necessário. 

Em vez de honrar cada presença (e extrair desse período o máximo possível), nós vivemos aterrorizados.

Temos medo de ser esquecidos por Deus ou, pior, de merecermos ser castigados por algo que já fizemos (culpa).

Temos medo de que (quem sabe?) no Universo impere, de fato, a Lei do Caos.

Temos medo de não sermos merecedores, de não sermos dignos de amor, de sermos abandonados, de não sermos necessários.

Assim, tentamos (em vão) controlar as pessoas e os acontecimentos da vida, vivemos em estado de alerta, vivemos com medo da dor.

Endurecemos dentro de um molde feio e estamos endurecendo os nossos filhos - aqui o processo se revela de forma gritante.

A nossa arrogância, a nossa intolerância ao diferente e a nossa incapacidade de respeitar o tempo das coisas é refletida e potencializada nas crianças. De nada adianta reprimi-las e castiga-las: estão iluminando as nossas sombras.

Quanto cansaço.

Quanta blasfêmia.

Quanto desperdício de energia.

É preciso ir até a raiz do nosso comportamento: a falta de confiança (mais conhecida com Mãe de Todos os Medos).

A nossa fé é rasa e instável.

É necessário interiorizar a entrega, a confiança em um Deus de AMOR, a confiança no nosso plano de alma, a confiança no suporte amoroso que nos está disponível.

É urgente ressignificarmos a culpa e as fórmulas de “salvação” trazidas pelas doutrinas e religiões, reescrevendo a grade planetária e aliviando o peso da nossa consciência e do inconsciente coletivo.

Vá e faça novas todas as coisas.

O seu movimento movimenta o mundo.

Comece por você.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Sobre reconhecer os ritmos





Relacionamentos e hortas têm tudo a ver.

Quando você escolhe as plantas que deseja ter em uma horta, precisa dedicar um pouco do seu tempo e da sua atenção para conhecê-las melhor.

Deve pesquisar em que tipo de terra elas se desenvolvem melhor, se gostam de sol, quantas vezes por semana precisam ser regadas, com quais outras plantas se relacionam bem, a que tipo de pragas estão sujeitas e de que forma pode ajudar a superá-las, se os frutos devem ser colhidos ainda verdes (para que finalizem o processo de amadurecimento com a sua ajuda) e assim por diante.

Não existe a mínima possibilidade de agir contra a natureza delas. Faltou água, elas morrem. Excesso de sol, elas morrem. Colhe o fruto antes da hora, ele perece. 

Assim são as pessoas. Ainda que consigam se adaptar, ainda que se permitam ceder em alguns pontos, passou do limite, perdem o viço, perdem a graça, tornam-se desinteressantes.

Em um relacionamento você precisa colocar a sua atenção verdadeira no outro e compreendê-lo, aceitá-lo, acolhê-lo. Jamais possuí-lo, controlá-lo, inferiorizá-lo.

Precisa saber o que move o seu parceiro e ajudá-lo a manter essa chama acesa, intocada.

Precisa saber o que mexe com ele, quais os argumentos poderia usar para fazê-lo agir exatamente como você quer, apenas para jamais usá-los (porque você não deseja receber dele nada que não flua naturalmente da sua essência).

Precisa saber como ele gosta do café, o que ele gosta de passar no pão, o tipo de lençol que lhe agrada a pele, os lugares que ele gostaria de conhecer, como ele gostaria de envelhecer.

Precisa respeitar o tempo dele, sem exigir que ele ofereça sementes ou frutos antes do tempo.

Precisa acolher o outro com as suas fraquezas, os seus traumas (todas as pragas às quais está suscetível), colocando-se na posição de auxiliador, se assim for demandado.

Esse nível de compatibilidade é muito valioso, muito verdadeiro. Quando há verdade, nada é forçado ou manipulado: há duas naturezas que convivem (por opção) e se manifestam harmoniosamente.

E de repente você enxerga que não há, ali, apenas dois corpos que se encaixam com a maior naturalidade do mundo. Há, ali, um encontro marcado entre seres que se comprometeram a se ajudar, a crescer, a amadurecer.

Só é possível crescer em verdade quando não simulamos para agradar o outro, abandonando aspectos caríssimos de nós, fragmentando a nossa essência.

Só é possível crescer quando a terra é adequada, quando o sol e a água nos são dados na medida certa, quando a temperatura (quase sempre) é propícia.

Só é possível crescer quando se aceita a transitoriedade das coisas e das pessoas, sendo grato por cada momento em que é possível a convivência, sabendo que amanhã tudo pode ser diferente - não existe segurança ou garantia de nada.

Não existe gaiola que prenda um coração.

Talita Rebello
02.05.2016