segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

2018 foram muitos



2018 foi, literalmente, mais que um ano. 

Foram vários. 

Foram vidas. 

Tudo se manifestou no agora, simultaneamente. 

Eu fui inúmeras de mim. 

Experimentei o amargo e o doce de mim. Experimentei o gosto do meu próprio julgamento. Experimentei a submissão ao poder que eu dei a algumas pessoas. 

Mas, sem dúvidas, a maior experiência foi com o medo. 

Pude perceber o incrível potencial de criação dos meus medos. 

Sim, eu os vi de frente mais uma vez. Especialmente, o medo de repetir o passado e o medo de perpetuar padrões sistêmicos. Ele havia colocado importante parte de mim para dormir: algo em mim não parecia vivo.  

Fragmentação. Desfragmentação. 

Também foi um ano de reencontros. Muitas eras dispostas a convergir, a resolver, a transmutar e a somar. 

Limpezas amorosas por meio da construção de novas relações, de novos laços. 

Tive a sorte e a honra de conviver com pessoas abertas à expansão, dispostas a enfrentar as próprias verdades, dando precioso espaço para o Universo trabalhar. 

Tantas relações nasceram e tantas outras se fortaleceram. Descobrimos novas maneiras de interagir, novas maneiras de servir, novas maneiras de nos expressarmos. 

Nem tão novos rumos, mas, certamente, caminhos mais claros e passos mais firmes. 

Levo comigo a boa e velha solitude. Aquela parte de mim que dá lugar ao vácuo, que permite um sutil distanciamento e onde acesso um verdadeiro turbilhão de informações em forma de energia (de difícil tradução). 

Hoje, o silêncio (em relação ao meu universo interior), que me acompanhou ao longo de boa parte desse ano, cede lugar à gratidão. 

Gratidão a tudo que me tirou a paz. 

Gratidão a tudo que moveu meu chão. 

Gratidão a todas as crises, a todas aa catarses, a todas as críticas,  todos os desentendimentos. 

Gratidão, pois me aproximou cada vez mais do meu centro, da minha essência e da pureza do meu coração.  

Na certeza de que nada sei. 

Na certeza de que a minha verdade só serve a mim. 

Na certeza de que estou dando o melhor que tenho. 

Desejo a mim e a você um 2019 de profundo amor próprio, de farta colheita e de doçura no caminhar.      

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Iemanjá e as águas das nossas emoções




Ouvi, esses dias, uma definição grega para a felicidade: um momento que você não deseja que acabe.

Os momentos que aqui vivemos passam a fazer parte de nós. Onde quer que estejamos, somos as flores e somos o fogo. Perfumamos e aquecemos. Embelezamos e transmutamos.

Aqui, nós experimentamos o prazer do compartilhar, o prazer do conectar, o prazer do acolher.

Mais que isso, comprovamos que a nossa força não está na nossa capacidade de construir muros em torno das nossas vergonhas e das nossas fraquezas; mas, sim, na aceitação da vulnerabilidade – inerente a todos os seres humanos.

Quando deixamos, do lado de fora da porta, os nossos sapatos, derrubamos também as nossas máscaras e abandonamos os nossos personagens. Então, nesta sala, damos o primeiro passo em direção à nossa verdade, encarando essa mandala florida e iluminada.

Fica claro, as vergonhas e os desequilíbrios que tanto escondemos (e que tanto nos isolam) são, apenas, parte do enredo.

Enredo que nos permite conhecer a fundo as dores e os pavores dos seres humanos, para que tenhamos empatia, para que aprendamos a curar o corpo de dentro para fora, para que sejamos compreensivos em relação às fraquezas e dificuldades, para que não subestimemos as emoções e as dores que às vezes nos assolam a ponto de nos imobilizar.

Assim, vida após vida, estamos passando por este processo, até que sejamos capazes de ser compreender a natureza dessa experiência e, então, transcendê-la.

Hoje, Iemanjá nos convida a conhecer as águas do nosso ser.

Água que flui com graça e gentileza, que parece se adaptar ao caminho que lhe é oferecido, mas que, silenciosamente, promove transformações profundas e irreversíveis.

Água que irrompe com força e determinação, que não pode ser contida, que não pode ser freada.

Água que lava, água que leva.

Permanente como as marés, impermanente como as chuvas.

Ora doce, ora salgada. Ora transparente, ora misteriosa. Ora calma, ora impetuosa.

Não por coincidência, a água é o elemento que rege as nossas emoções. Mais que isso, é um verdadeiro arquétipo: representa o contínuo fluxo da vida, o movimento como ordem.

Seja como for, em qualquer das suas formas, a água é sempre transformadora. Assim como ela desgasta as pedras, as nossas emoções nos lapidam.

Podemos observá-las, compreendê-las e acolhê-las. Permitiremos, assim, com a intimidade, que as nossas emoções sejam águas límpidas e gentis.

Podemos rejeitá-las, negligenciá-las, resisti-las. Criaremos, assim, uma potente onda em sentido oposto, que violentamente nos derrubará. Águas turvas cuja profundidade e conteúdo desconhecemos.

Qual será o ritmo das nossas águas? Qual a profundidade? Onde ainda estão turvas e nos deixam com medo de mergulhar? Qual será a dança que as nossas curvas preferem?

Que o ancoramento da terra e a força do fogo nos tornem capazes de ceder à fluidez das nossas águas e nos concedam um porto seguro para observá-las e conhecê-las.

Guiados por Iemanjá, que nos seja concedido acesso à nossa mente subconsciente, para que tomemos consciência dos programas e sistemas que constroem os nossos padrões repetitivos de conduta e que disparam os nossos gatilhos emocionais, tornando-nos caminhantes mais lúcidos e conscientes.

Salve Iemanjá.