Com bastante frequência eu tenho a impressão de ter vivido diversas vidas em uma única.
O passado, como uma estrada que (a cada segundo) fica para trás, quase não me é mais familiar. Alguns momentos, entretanto, representam uma memória tão viva que, acredito, sejam parte indissociável do que eu me tornei.
Essa foto representa um desses momentos. Eu e três grandes amores da minha vida em frente à nossa primeira plateia.
Apenas a nossa bailarina voltou a se apresentar. Morou em outros países, conheceu diversas pessoas, aprendeu outras línguas. Encantou-se com a África e o seu povo.
Suas histórias abriam os meus horizontes e estimulavam o que havia de melhor em mim. “Quantas vidas ela já viveu?” – eu me pergunto.
Sejam elas quantas forem, houve algo que a representou em todas: a postura.
Sempre firme, disciplinada, determinada e corajosa. Características que nunca foram tão necessárias como agora.
Alguns se deixam levar pela doçura do seu rosto, outros conhecem os calos deixados pelas sapatilhas de ponta. Eu conheço os calos e sei do que ela é capaz.
Sei que há dores insuperáveis e que penetram a nossa vida trazendo consigo perguntas que jamais terão respostas.
Não ouso, sequer, pensar em consolá-la – sou incapaz de dimensionar a sua dor. Silenciar parece ser o mais digno a se fazer.
Coloco-me a serviço e imploro por iluminação: que eu seja a presença mais divina que estiver ao meu alcance, que eu seja o melhor ser humano que eu puder ser, que, apesar de todas as dúvidas que trago em meu peito, o meu amor seja capaz de nutri-la e sustentá-la (por um segundo que seja).
It’s a cold and it’s a broken Hallelujah.
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