sexta-feira, 30 de julho de 2021

Do que você está preenchido?

 



Esses dias li um texto que falava sobre o grande equívoco que é a demonização do erro. 

Pessoas com medo de errar não tentam. 

Só erra quem vive, só erra quem se arrisca, só erra quem dá vazão ao caos que existe dentro de si. 

Só erra quem é humilde o suficiente para começar coisas novas. 

Em uma sociedade que nos grava a pele com os equívocos que cometemos, eu me curvo aos imperfeitos e silencio o meu julgamento. Não porque eu espero que sejam condescendentes comigo, mas porque eu tenho força para amar. Porque eu não preciso esperar por um mundo diferente, não preciso esperar que a mudança aconteça dentro do coração dos outros: eu posso construir já a tolerância, a compaixão e o respeito às histórias individuais. 

O caminhar me ensinou que as pessoas simplesmente estão vivendo e estão sendo o que dão conta de ser. Ninguém faz nada contra nós. As pessoas simplesmente fazem, simplesmente são (ou estão) - afinal, não somos parte de todas as equações. 

O que, nas ações do outro, nos ofende ou nos machuca faz parte da nossa história, da parcela de vida que devemos refinar. 

Faz parte do que fomos incapazes de comunicar ao outro. 

Faz parte da dificuldade de expressar o que realmente queremos, esperamos e sentimos. 

Faz parte das expectativas silenciosas que criamos. 

Faz parte das meias verdades que contamos. 

Na nossa vida, é tudo sobre nós mesmos. 

Mas, na vida do outro, o espaço não nos diz respeito. 

Se pensarmos bem, no fundo, não há contas a acertar. Só nos falta clareza, compreensão, maturidade e uma generosa porção de amor.

Do que é que você está preenchido?

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Permitam-me transitar

 



As pessoas estão acostumadas a nos colocar dentro de caixinhas. É como se precisássemos ter um rótulo específico para que possam nos reconhecer ou julgar. 

Assim, também, tentam evitar que mudemos. Exercem uma força que tenta nos manter sempre conectados ao que esperam de nós. 

Querem que eu me declare vegetariana, adepta de uma religião, naturalista, ativista, feminista.  

Querem que eu declare o meu conceito de Deus (existe algo mais dinâmico que isso?).  

Querem que eu pare no tempo. 

Querem limitar meu espaço. 

Por vezes, penso que não se importam com a resposta: querem apenas munição, querem iniciar uma discussão ou querem, depois, poder cobrar a conta pelo cabelo quimicamente alisado ou pelo pedaço de frango grelhado no meu prato.  

"Logo você"? 

Confesso: existem (muitas) pessoas que eu evito, porque eu não sou mais a pessoa que esperam que eu seja. Na verdade, em alguns casos, eu nunca fui a pessoa que gravaram em suas memórias (para o bem ou para o mal). Para elas, eu sou uma lembrança desenhada pelo seu próprio filtro pessoal.  

Entendo isso como quebra de ressonância. Simples assim. 

Mas, hoje, grito: eu não tenho compromisso com o que fui, com o que pensei, com erros que cometi, com as roupas que usei. Estou em constante desconstrução. 

Não estou melhor. Não estou pior. Estou caminhando. 

Eu amo estar na minha própria pele e ter forças para caminhar para fora de todas as caixas nas quais tentam me conter - e, também, para ficar, quando e enquanto eu quiser.  

Sei, exatamente, as pessoas com as quais eu falhei e atesto: viver a minha vida, atravessar os meus desertos, desfrutar a minha diversidade e acolher a minha criança não são consideradas falhas.  

São universos que cabem, apenas, a mim. Não quero dividi-los. Não tenho obrigação de prestar contas. Os meus erros e acertos fazem parte do meu próprio arquivo - e apenas eu escolho se e quando compartilhar algumas páginas. A minha liberdade é interior e inalienável. 

Não arquivo mágoas. Não arquivo raiva. Não arquivo desapontamentos.  

Ainda arquivo culpa. Por todas as vezes que eu não tive forças para tomar atitude. Por todas as vezes em que me submeti em busca de carinho e aceitação. Por todas as vezes em que me maltratei. Por tudo o que eu construí movimentada pela dor. Por todas as vezes em que gravei a minha alma com informações negativas - e, hoje, entendo desnecessárias.  

É disso que eu preciso me curar.  

Assim e por isso, eu me despeço de todos os que já me conheceram.  

Abro-me para todos os que desejem me conhecer ou re-conhecer. 

Tratem-me como uma estranha. 

Olhem-me com curiosidade. 

Permitam-me transitar.