sábado, 30 de março de 2019

Conectando-se com o corpo




Como enxergar algo que rejeitamos, reprimimos e arquivamos no inconsciente?

Qual seria a melhor maneira de começarmos essa investigação?

Não me vem outra resposta, senão a observação do próprio corpo, que é um instrumento fantástico e cheio de respostas.

Pode-se ignorar ou reprimir uma emoção (aliás, fazemos isso o tempo todo). Mas não se pode negligenciar uma manifestação física, incômoda e dolorosa.

Ou seja, se não formos capazes de perceber o corpo emocional, então no físico será mais visível.

A ideia é que, de alguma maneira, percebamos o processo. Não se trata de castigo, trata-se de serviço. Trata-se da parcela que concordamos em elevar, em curar, em transmutar.

Apesar de não ser possível generalizar, podemos, pelo menos, começar a nossa investigação pessoal pelas faixas do corpo em que os desequilíbrios se manifestam, relacionando-as aos chakras correspondentes.

Conectem-se com o corpo e sintam: “o que não vai bem?”

Bruno Gimenes, autor do livro Fitoenergética, nos dá um caminho pelo qual começar:

CHAKRA BASE – Muladhara - Base
Órgãos: rins, bexiga, reto, coluna vertebral, quadris, ossos.
Aspecto da consciência: sobrevivência e funcionamento físico, estrutura de base, forças de base, dinheiro, trabalho, percepção de si mesmo.
Comportamentos que podem gerar desequilíbrios: problemas familiares, excesso de responsabilidade (pessoal, familiar e profissional), dificuldades na estrutura de vida, falta de dinheiro e desemprego.
Manifestações físicas: indisposição física, falta de vitalidade, dores nas juntas, torcicolo, nervo ciático, desânimo de viver, falta de entusiasmo, falta de aterramento, problemas nos ossos, hemorroidas, unha encravada crônica, infecção de rins e bexiga.

CHAKRA UMBILICAL – Swadisthana – Morada do Prazer
Órgãos: abdome inferior, útero, intestino grosso, sistema reprodutor.
Aspecto da consciência: sexualidade, relacionamentos e vínculos, prazer pela vida, autorrespeito, autoestima.
Comportamentos que podem gerar desequilíbrios: dificuldades de relacionamento com o parceiro, com familiares e amigos; falta de aceitação do próprio corpo, baixa autoestima, autopodar-se de realizações na vida.
Manifestações físicas: deficiências no sistema linfático, falta de orgasmo, incapacidade de ereção, ejaculação precoce, descontroles no fluxo menstrual, acúmulo de gordura acentuado na região do quadril, obesidade em geral, cistos nos ovários, infertilidade.

CHAKRA DO PLEXO SOLAR – Manipura – A Cidade das Joias
Órgãos: fígado, baço, estômago, intestino delgado, vesícula biliar.
Aspecto da consciência: poder pessoal, alegria, perdão, autoconfiança, coragem, emoções, desejos, equilíbrio , toler^ncia, gratidão, respeito.
Comportamentos que podem gerar desequilíbrios: raiva, medo, insegurança, mágoa, tristeza, remorso, arrependimento, não engolir a vida, falta de aceitação, intolerância, desejos não realizados, ansiedade, angústia, pânico, não perdoar, vitimizar-se, excesso de infantilidade, falta de flexibilidade, carência afetiva, vergonha, culpa.
Manifestações físicas: deficiência digestiva e estomacal, úlcera, gastrite, oscilações de humor, depressão, introversão, hábitos alimentares anormais, instabilidade nervosa, câncer de estômago, desequilíbrio emocional, inseguranças, medos e pânicos, agonias, ansiedade, diabetes, obesidade, pancreatite, hepatite, compulsão por consumo, hérnia de hiato.

CHAKRA CARDÍACO – Anahata – O Inviolável
Órgãos: coração, sistema circulatório, sangue.
Aspecto da consciência: amor, altruísmo, amor por si mesmo, intuição, sabedoria, compaixão, discernimento.
Comportamentos que podem gerar desequilíbrios: sentimentos reprimidos, tristeza, não achar graça na vida, materialismo excessivo, falta de compreensão, falta de sensibilidade, excesso de apego a tudo, dores de perda e abandono.
Manifestações físicas: infartos, angina, taquicardia, paradas respiratórias, deficiência pulmonar, circulação precária, baixa imunidade, enfisema pulmonar, câncer de mama, lúpus, doenças do sangue em geral, doenças arteriais, gripe.

CHAKRA LARÍNGEO – Vishuddha - O Purificador
Órgãos: garganta, boca, ouvidos.
Aspecto da consciência: autoexpressão, criatividade, materialização de ideias, realizações, inteligência em ação.
Comportamentos que podem gerar desequilíbrios: não conseguir falar, não conseguir opinar, não conseguir verbalizar ou expressar os sentimentos, engolir os sentimentos reprimidos, não conseguir por projetos em prática.
Manifestações físicas: falta de criatividade para verbalizar pensamentos, dificuldade de expressão e comunicação (principalmente em público), asma, artrite, alergias, laringite, dores de garganta, problemas menstruais, herpes e aftas, problemas com o cabelo e com a pele, crescimento descontrolado do corpo na infância, bócio, câncer de garganta, perda da voz, surdez, problemas nos dentes e nas gengivas.

CHAKRA DO TERCEIRO OLHO – Ajna - Centro do Comando
Órgãos: olhos, têmpora, sistema nervoso.
Aspecto da consciência: responsabilidade por si mesmo, discernimento, inteligência, consciência, intuição, clarividência, cocriação do universo.
Comportamentos que podem gerar desequilíbrios: ceticismo, materialismo excessivo, excesso de preocupações na vida, não saber das limites na vida, excesso de negatividade, raiva do mundo, futilidade, dificuldade em viver a vida, visão excessivamente racional e lógica.
Manifestações físicas: incapacidade de visualizar e compreender conceitos mentais, incapacidade de por ideias em prática, a tireóide influencia a função de todas as outras glândulas, dores de cabeça, sinusite, confusão mental, dificuldade de concentração, memória ruim, otites, hiperatividade mental.

CHAKRA CORONÁRIO – Sahasrara - Lótus das Mil Pétalas
Órgãos: parte superior do cérebro.
Aspecto da consciência: ligação com a essência da alma, vontade e propósito espiritual, missão da alma, sentido da vida.
Comportamentos que podem gerar desequilíbrios: negligência espiritual, alienação da causa e missão pessoal, falta de fé, incredulidade, não aceitar o mundo, não se ligar a uma consciência divina, não crer em Deus, brigar com Deus, rejeitar a sua origem e criação.
Manifestações físicas: desequilíbrio no relógio biológico e do sono, estado de torpor constante, estado de espírito alterado, desarmonia no vínculo entre o corpo físico e os corpos sutis, não integração total da personalidade com a vida e os aspectos espirituais, tumores no cérebro, obsessões espirituais, depressões, Mal de Alzheimer, Mal de Parkinson, esquizofrenia, epilepsia, influencia a função de todos os outros chakras.

Certamente nos conectamos a mais de um chakra e a mais de um tipo de desequilíbrio – até porque, com o tempo, um começa a reverberar no outro, desarmonizando completamente o funcionamento dos nossos centros de energia.

Muito propício trazer uma mensagem de Ashtar, entregue em julho de 2017:

“Vocês estão imersos em um grande salão de reconhecimentos. Salão que está mostrando-lhes quem realmente são e o que ainda precisa ser curado e iluminado em vocês. Foi, sem dúvida, uma longa viagem até aqui, até este ponto que, como eu venho dizendo nos últimos meses, vocês estão passando por uma grande transformação. Alguns de vocês, dentro desse salão de reconhecimento, estão, realmente, impressionados, com o que ainda precisava ser curado. E isso, minha amada família, não deve ser motivo de tristezas ou desapontamentos com vocês mesmos. Deve ser motivo de alegria, pois se vocês chegaram até aqui é, simplesmente, porque já são vitoriosos.
Neste salão, vocês terão a oportunidade de se olharem encarando os seus próprios medos, angústias e sombras ainda ocultas, que precisa, realmente, ser curadas nesta fase que, devido ao imenso progresso que o seu planeta tem feito rumo à Ascensão, exige que olhem para si mesmos e se reconheçam como são, sua Luz inata. O que não pertence a vocês, definitivamente, precisa ser curado. Toda essa aceleração necessária é devido às suas próprias escolhas de avançarem o quanto antes e seguir Gaia no seu processo de ascensão. É possível dizer que é um salão de espelhos, onde poderão se ver naquilo que diriam ser suas faces: algumas partes mais sombrias que vocês assumiram como suas ao longo de suas muitas encarnações; aquelas que estiveram mais desconectadas da sua essência mais pura. Outras mais puras, aquelas que vocês assumiram quando estiveram em maior conexão com a sua essência. Entendam que não é um tribunal onde serão julgados por todas as suas experiências, mas uma oportunidade para verem o jogo de dualidade que vieram experimentar. E, nessa fase de espelhos, saberão, internamente, quem realmente vocês são: aqueles que assumem as faces mais doces e amorosas, pois essas são as suas verdadeiras faces. As outras são faces que lhes serviram, justamente, para que pudessem experimentar a dualidade e passassem a valorizar mais ainda a sua Luz e conexão com sua essência mais pura.
Nunca há julgamentos, queridos, de nenhuma maneira. Alguns de vocês podem temer olhar para as suas faces mais sombrias, mas é isso que não queremos. Desejamos que vocês as encarem de uma forma amorosa, assumindo, definitivamente, a sua face doce de Amor e Luz, que é sua natureza original. Muitos de vocês têm extrema dificuldade de assumirem essas faces que lhes serviram para experimentar a dualidade, negando-as severamente; e essa não é a minha proposta, nem de nenhum outro irmão que deseje manifestar-se para orientá-los. O salão de espelhos é, justamente, para que olhem para todas elas e, a partir desse ponto, assumam as suas faces originais de amor e doçura. Automaticamente, as outras faces serão envolvidas no olhar misericordioso de, simplesmente, vocês terem se reconhecido como são.

É só amor.

Foi por amor que um dia adentramos na dualidade e é por meio do amor que estamos reconstruindo o nosso caminho de volta à unidade. De dentro pra fora, do pequeno para o grande.

Foi, também, por amor, que o Criador preencheu o caminho com adoráveis ajudantes.

A cada chakra corresponde uma vibração original, uma frequência natural, um estado de perfeição que pode ser ativado por meio do espectro das cores, do reino vegetal, do reino mineral, dos sons, dos números.

Fechem os olhos e conectem-se com a vibração de cada um dos seus centros de energia:

O chakra base é vermelho, yang (gira em movimento de expansão) e corresponde ao número 1. O seu mantra é o LAM. Os cristais que ativam a sua vibração natural são a turmalina negra, o ônix, o jaspe vermelho, o rubi, entre outros. As ervas correspondentes são: o alecrim, o capim-limão, a hortelã, o manjericão, o açafrão da terra, a canela, a malva, o orégano, a pariparoba, entre outras. Ele nos diz: Eu sou, eu estou e eu reconheço o meu poder de ação!

O chakra umbilical é laranja, yin (gira em movimento de recepção) e corresponde ao número 2. O seu mantra é o VAM. Os cristais que ativam a sua vibração natural são o âmbar, a calcita laranja, a ágata laranja, entre outros. As ervas correspondentes são: o alecrim, o capim-limão, a hortelã, o manjericão, o açafrão da terra, o anis estrelado, a artemísia, a canela, o gengibre, o hibisco, a laranjeira, o eucalipto, a malva, entre outras. Ele nos diz: Eu sinto e eu compartilho! Eu conheço os meus limites, eu me conecto e eu permito a troca!

O chakra do plexo solar é amarelo, yang (gira em movimento de expansão)  e corresponde ao número 3. O seu mantra é o RAM. Os cristais que ativam a sua vibração natural são o citrino, o topázio amarelo, a calcita amarela, entre outros. As ervas correspondentes são: o alecrim, o capim-limão, a hortelã, o manjericão o açafrão da terra, a arruda, o boldo, a camomila, a canela, a cavalinha, a erva doce, a erva mate, a malva, o maracujá, a marcela, a valeriana, entre outras. Ele nos diz: Eu faço, eu crio! Eu fico com o que é meu e deixo o outro com o que é do outro!

O chakra cardíaco é verde, yin (gira em movimento de recepção) e corresponde ao número 4. O seu mantra é o YAM. Os cristais que ativam a sua vibração natural são o quartzo verde, a fluorita verde, a amazonita, a jade, entre outros. As ervas correspondentes são: o alecrim, o capim-limão, a hortelã, o manjericão, a canela, a carqueja, o cominho, o guaco, a malva, a melissa, entre outras. Ele nos diz: Eu amo!

O chakra laríngeo é azul claro, yang (gira em movimento de expansão) e corresponde ao número 5. O seu mantra é o HAM. Os cristais que ativam a sua vibração natural são o quartzo azul, a safira, a sodalita, a água marinha, entre outros. As ervas correspondentes são: o alecrim, o capim-limão, a hortelã, o manjericão, a alfazema, a canela, o chá verde, o funcho, a malva, a sálvia, o tomilho, entre outras. Ele nos diz: Eu falo, eu busco, eu me comunico! Eu posso transformar a minha realidade!

O chakra do terceiro olho é azul índigo, yin (gira em movimento de recepção) e corresponde ao número 6. O seu mantra é o OM. Os cristais que ativam a sua vibração natural são o lápis lazuli, a azurita, a safira azul, entre outros. As ervas correspondentes são: o alecrim, o capim-limão, a hortelã, o manjericão, canela, coentro, o cravo, a malva, a tanchagem, entre outras. Ele nos diz: eu vejo! Eu vejo além!

O chakra coronário é violeta, yang (gira em movimento de expansão)  e corresponde ao número 7. O seu mantra é o OM. Os cristais que ativam a sua vibração natural são a amestista, a safira violeta, a fluorita, entre outros. As ervas correspondentes são: o alecrim, o capim-limão, a hortelã, o manjericão, a calêndula, a canela, a malva, entre outras. Ele nos diz: Eu entendo, então silencio.

Existem inúmeras variações destas classificações. A sugestão é que se conectem com o corpo e com os centros de energia, e que façam a sua própria pesquisa, que encontrem o que mais ressoa e o que melhor serve.

Como podem ver, existem muitas ferramentas disponíveis e esperando para nos acolher em nossos processos.

Esse é o trabalho de uma vida e escolhemos essa para realizá-lo.

Buscar a si.

Ver-se por completo.

Permitir o processo de integração.

Lembrem-se, o que está oculto não pode ser trabalhado.

Precisamos, apenas, ver, sentir, acolher, honrar, amar e liberar. Quantas vezes forem necessárias.

Por fim, um trecho bastante significativo do livro Criando União:

"No seu estado atual, uma parte do seu ser mais íntimo está desenvolvida e rege o que vocês pensam, sentem, desejam e fazem. Há outras partes, ainda em condições de menor desenvolvimento, que também regem e influenciam os pensamentos, os sentimentos, os desejos e a atuação. Assim, vocês estão divididos, o que sempre gera tensão, dor e ansiedade, além de dificuldades internas e externas. Alguns aspectoa da personalidade sâo autênticos, e outros apresentam erros e distorções. A confusão consequente provoca sérias perturbações. O que as pessoas geralmente fazem é ignorar um desses aspectos e identificar-se com o outro. No entanto, negar uma parte de si mesmo não resulta em unificação. Pelo contrário, aumenta a divisão. O que se deve fazer é trazer à tona o lado divergente e conflitante e encará-lo - encarar a ambivalência por inteiro. Só então é possível encontrar a realidade última do eu unificado. Como vocés sabem, a unificação e a paz surgem na medida em que a natureza do conflito interior é admitida, aceita e entendida. (...) 
Embora o princípio da unificação seja exatamente o mesmo dentro das pessoas e entre elas, ele não pode ser aplicado a outro ser humano se primeiramente não tiver sido aplicado ao eu interior. Se as partes divergentes do eu não forem aproximadas, de acordo com esta verdade, se a ambivalência não for encarada, aceita e entendida, o processo de unificação não pode ser colocado em prática com outra pessoa. Este é um fato muito importante, que explica a grande ênfase dada pelo Trabalho do Caminho à PRIORIDADE DAS QUESTÕES DO EU. (...) 
O amor, a aceitação, a intimidade profunda e gratificante com os outros podem ser uma força unicamente positiva, sem qualquer ameaça, se esses embustes forem examinados, revelados e desfeitos. É da máxima importância, meus amigos, procurar eles dentro de vocês. (...)  
A menos que a cisão entre o eu consciente e o eu real, que abrange os aspectos inconscientes, seja trazida à consciência, ela reaparecerá entre vocês e os outros. Conscientizar-se do eu real é começar a preencher essa lacuna - a consciência a diminui. A consciência, no fim das contas, leva à aceitação do que era anteriormente negado. (...) 
A energia só pode ser transformada quando a pessoa está ciente do desvirtuamento da sua forma: no entanto, se você rejeitar a sua manifestação atual, como poderá transformá-la? (...) 
A desunião interior não poderá trazer a união com os outros. É rematada tolice esperar que isso aconteça. No entanto, vocês não precisam esperar até estarem totalmente unificados.  (...) 
A aceitação de qualquer parte que vocês tenham rejeitado de si mesmos, recusando a torná-la consciente, resultará imediatamente em maior aceitação e compreensão das pessoas com as quais vocês lidam.  Da mesma dorma, quem não consegue aceitar o seu lado mau, pensando que "primeiro eu preciso ser perfeito para depois poder me aceitar, amar e confiar em mim", demonstrará uma atitude idéntica em relação aos outros. Descobrindo, aos poucos, o quanto são intolerantes e críticos com os outros, vocês perceberão que fazem exatamente a mesma coisa consigo mesmos.

sexta-feira, 15 de março de 2019

Abraçando o Eu: Unificando




Há alguns anos, em uma reunião, um ser se dirigiu até mim e disse: “como pode, uma mulher que inspira tantas outras, mais velhas, mais novas, fragmentada desse jeito?”

Não é possível contar o número de vezes que voltei a esse momento. Busquei incessantemente os pedaços que faltavam em mim.

Revirei a minha história em busca das Talitas que havia deixado para trás, convidando-as a seguirem o caminho comigo.

Acessei cada trauma, cada dor, cada arrependimento, cada sonho não realizado. Colei os cacos e senti:

- Essas dores não são mais minhas; esses sonhos não são mais meus. Por que, então arrastá-los comigo?

Não estava li a resposta que eu buscava.

Até que, então, a fragmentação se apresentou com outra face: a da repressão.

Eu, reprimida? Não parecia possível, mas segui aberta à compreensão dos conceitos.

Para a psicanálise, o conceito de repressão seria:

“Mecanismo mental inconsciente, pelo qual as ideias ou os impulsos indesejáveis e inaceitáveis para a consciência são suprimidos por ela e impedidos de entrar no estado consciente. Este material indesejável não está geralmente sujeito à recordação voluntária consciente. A essência da repressão consiste em afastar uma determinada coisa do consciente, mantendo-a à distância (no inconsciente). Entretanto, o material reprimido continua a fazer parte da psique, apesar de inconsciente, e continua a causar problemas. Segundo Freud, a repressão nunca é realizada de uma vez por todas e definitivamente, mas exige um continuado consumo de energia para se manter o material reprimido.

Identifiquei a repressão em dois fluxos contínuos: de fora pra dentro e de dentro pra fora. Uma verdadeira compressão.

A força externa, como uma construção social, familiar e religiosa que nos diz quem e como devemos ser para sermos partes integrantes dos nossos grupos.

A interna, por outro lado, consiste em uma busca desenfreada pela luz, suprimindo uma infinita gama de impulsos conscientes e inconscientes, instintos e desejos, que poucas vezes encontram uma maneira equilibrada de serem expressados.

Ou seja, de um lado da corda estão os nossos impulsos primários (que reprimimos, por não sabermos lidar com eles) e, do outro, os sistemas aos quais pertencemos, que nos dizem exatamente como devemos que ser para nos encaixarmos, então criamos personas – uma para cada ambiente.

Lembrei-me da famosa frase de Simone de Beauvoir, que tantas vezes invoquei para repudiar toda e qualquer tentativa de limitação do meu ser, sem perceber a sua real profundidade:

“Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.”

Pedi ajuda ao tarô e, sem nenhuma surpresa, a carta que resumiu a situação foi o Diabo, a carta XV.

Esta carta está perfeitamente inserida entre a Temperança e a Torre.

Esse arquétipo surge quando estamos com os vasos cheios, equilibrados, plenos, colocando em cheque o nosso poder pessoal. O que quer que criemos não escapará à prova da torre: tudo que for filho do ego ruirá, todos os nossos castelos de areia.

Socorri-me de Jung. Abrindo o livro Jung e o Tarô em uma página aleatória, deparei-me com a imagem do quadro “A Cigana Adormecida”, de Rosseau, seguido da seguinte frase:

“O sono da cigana é visitado pelos sonhos de sua perdida alma animal; a fera, inquieta, fareja o mistério da humanidade, ansiando por tocá-lo.”

Havia, ainda, uma frase de Aniela Jaffé:

“Os instintos suprimidos e feridos são os perigos que ameaçam o homem civilizado; os impulsos não reprimidos são os perigos que ameaçam o homem primitivo. Em ambos os casos o “animal” é alienado de sua verdadeira natureza; e para ambos, a aceitação da alma animal é condição da totalidade e de uma vida plenamente vivida. O homem primitivo precisa domesticar o animal em si mesmo e fazer dele o seu companheiro útil; o homem civilizado precisa curar o animal em si e torna-lo seu amigo.”

Não, a página aleatoriamente aberta, apesar de integrada ao assunto, não tratava da carta do Diabo. Eu estava lendo sobre a carta XI, a Força.

No livro Criando União, de Eva Pierrakos e Judith Saly, o Guia nos ensina que “Não basta desenterrar a história de nossa infância e associar o relacionamento atual às primeiras experiências com o pai ou com a mãe, embora estas sejam muito significativas e forneçam muitas pistas. Também é preciso descobrir, no quadro de nossa alma, o eu inferior e seus efeitos. Sem olhar de frente o que menos nos agrada a nosso próprio respeito, não podemos entender por que não conseguimos fazer uma mudança significativa. Muitos problemas da área dos relacionamentos são provocados pelos sentimentos e pelos pensamentos ocultos no inconsciente. Esses pensamento e sentimentos não investigados têm uma lógica peculiar, errônea e infantil. Provocam conflitos na alma. Com a alma em guerra, como você poderia ter um relacionamento saudável com alguém? Os pensamentos e sentimentos contraditórios não resolvidos no eu precisam, em primeiro lugar, ser trazidos à luz. (...) As tendências destrutivas inconscientes só podem ser desfeitas quando são enfrentadas e entendidas.”

Para Jung, grande parte da comunicação que estabelecemos com o nosso inconsciente se opera por meios dos sonhos. Animais, objetos, sentimentos – para cada pessoa uma simbologia própria, repudiava as generalizações. Por isso, estabelecer uma comunicação com o inconsciente era, para ele, indispensável.

Peguei, então, a carta do Diabo nas mãos e, guiada por Sallie Nichols (escritora do livro Jung e o Tarô), passei a observá-la e entrei em contato profundo com o arquétipo, a ponto de experimentá-lo e senti-lo por vários dias.

Uma observação rápida do desenho já nos deixa confusos. Talvez seja, a confusão, o principal trunfo do Diabo.

O corpo do Diabo é formado por várias partes que, partindo da lógica, não se conectam – o que me lembrou das nossas diversas personas, do quanto tentamos nos adaptar aos ambientes, do quanto somos moldados. Acabamos nos tornando um acumulado de penduricalhos, cada vez mais afastados da nossa essência.

O Diabo tem seios artificiais e rígidos, remetendo-nos a um feminino mecânico e agressivo.

Com a mão esquerda, segura uma espada pela lâmina. A espada, como se sabe, é o símbolo do masculino e das altas hierarquias. Ele faz chacota com tudo isso. Simboliza um masculino desequilibrado e um instrumento mal utilizado (que fere a si mesmo).

Representa o poder desordenado. Gaba-se da sua invulnerabilidade. Arrogante e indiferente a qualquer poder que não seja ele mesmo.

Ou seja, ambos os princípios criativos em desequilíbrio.

Possui, ainda, asas de morcego, o que nos remete às forças que operam na escuridão, momento em que os seres humanos estão mais vulneráveis, mais desprotegidos. No momento em que abrimos a guarda, suga a nossa essência.

Jung segue ressaltando que não podemos deixar de nos atentar para o fato de que o ser que intitulamos Diabo é um anjo, um portador da luz que caiu dos céus. Em diversas pinturas antigas, a sua representação aparece como sendo a sobra do próprio Jesus, sugerindo que o Diabo está a serviço do Criador.

Existe, no antigo testamento, a seguinte frase:

Para que saibam todos, que do nascente ao poente, não há ninguém além de mim. Eu Sou o Eterno, e não existe nenhum outro! Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; Eu, Javé, faço absolutamente tudo!

Certamente a escuridão faz parte do plano divino.

Na mitologia, grande parte dos deuses possui porção humana bastante destacada. Eles sentem raiva, sentem desejo, embriagam-se, arrancam cabeças.

Todas essas representações significam que possuímos, todos, parcela de escuridão. O Diabo representa a nossa sombra monstruosa, a nossa propensão para o mal, o nosso potencial de destrutividade, a nossa dificuldade em assumir a responsabilidade pelas nossas próprias escolhas, abrindo mão do nosso poder pessoal em favor das instituições.

Menciona Jung:

“Estar servil e inconscientemente preso, nem que seja ao mais altruístico dos códigos, marca tão seguramente uma pessoa como criatura do Diabo, quanto ser vítima dos próprios apetites animais.”

Ele representa o que rejeitamos em nós, o que não queremos ver e, então, não acessamos e não conhecemos – mas que rege a nossa vida a partir das profundezas.

Nesse sentido, novamente trecho do livro Criando União:

“Só quando existe coragem e honestidade para ver e aceitar no seu todo as emoções e os desejos prejudiciais; só quando é capaz de compreendê-los e avaliá-los completamente, é que se percebe, sem sombra de dúvidas, que eles são supérfluos como defesas e não servem a nenhuma outra finalidade.(...)
No decorrer do trabalho de um programa de autotransformação, tanto homens como mulheres deparam com padrões idênticos do eu inferior. Tomam conhecimento da falsa agressividade, hostilidade, violência, excesso de atividade, impaciência e recusa de esperar que os poderes cheguem à fruição no devido tempo. Também tomam conhecimento da falsa receptividade e da falsa entrega, ou seja, da negação da responsabilidade por si mesmo, da acomodação, da aceitação da linha de menor resistência. A tentativa de encontrar uma autoridade que assuma o que é, de fato, responsabilidade de cada um, é uma das formas de fugir à prestação de contas. Tanto homens como mulheres, portanto, precisam solucionar os mesmo problemas, porém sua interação se dá em um plano complementar e não idêntico. (...) Nada que permaneça oculto pode crescer; vocês sabem disso.

O descaso com as nossas fraquezas e a resistência em aceitá-las faz com que elas sejam projetadas constantemente no meio externo, como se agissem contra nós.

Precisamos trazer à consciência. Precisamos acolher e conhecer as partes reprimidas de nós mesmos.

É isso o que o Diabo nos fala: na escuridão reside o seu maior potencial de crescimento!

E ele pode nos ensinar a navegar na escuridão do nosso ser.

Repressão, fragmentação, dificuldade de lidar com o poder pessoal. Não podemos passar de certo ponto se não acessarmos o nosso “Eu Inferior”. Conhecê-lo e acolhê-lo constitui um trabalho indispensável de lapidação pessoal e de pacificação social.

A tão sonhada plenitude. A tão sonhada integridade. A tão sonhada unidade. Todas começam dentro de nós.

Lembrem-se, nós não somos as experiências, somos quem está experienciando. Nós aceitamos o propósito da experiência neste orbe, com a certeza de que o resultado seria positivo tanto para nós, quanto para o planeta.

Precisamos, apenas, tomar consciência do que ocultamos em nosso inconsciente, para que deixemos de projetar o nosso caos interior no externo. Precisamos deixar que os nossos “feios” e “errados” atravessem a fronteira, para que os vejamos, para que os sintamos e, então, sejam transmutados pela consciência e devolvidos ao planeta mais leves e mais elevados.

Somente assim passaremos a fazer escolhas mais sábias, mais responsáveis e mais alinhadas com os nossos objetivos. Somente assim teremos relacionamentos de valor, baseados na mais pura reciprocidade e conexão. Somente assim a nossa motivação será verdadeira e divina, pois livre da cisão que outrora havia entre a nossa consciência e a nossa inconsciência.

Durante esses dias de conexão com o arquétipo do Diabo (garanto que foram muitos), eu fui apresentada às mais diversas experiências. Em todas elas eu o via atrás de mim com as mãos em posição de suporte, como se dizendo:

- Tente agora com um pouquinho mais de força de vontade! Relacione-se com o seu animal e, ao lado dele, atravesse a floresta escura do seu ser. Assuma a responsabilidade pelas suas escolhas e, de fato, escolha – mas não use mais a mim ou a Deus como bodes expiatórios! Mantenha o foco no prazer: prazer de viver, prazer de se encontrar, prazer de crescer, prazer de se relacionar. Tire o foco do “o que” e coloque-o no “por que”, alinhando as suas ações e as suas motivações com os seus objetivos. Eu estarei aqui até o fim dos tempos para te lembrar que luz e escuridão são frutos da mesma árvore e que a integração da dualidade é uma riquíssima experiência.

Finalizo com um trecho do livro “Gente que mora dentro da gente”, de Patrícia Gebrim:

“Pois bem, imagine que antes de vir para cá, ainda lá no céu, ela tenha feito um trato com seu pai, o Sol. E o trato era mais ou menos assim: ela ganharia uma passagem de vinda para a Terra, e, em troca, ajudaria a curar um pouquinho do planeta. Não parecia demais; afinal, ela iria se divertir de montão, e ainda teria a oportunidade de sentir o aroma das flores, brincar numa cachoeira, ver o mais lindo pôr-do-sol e muito mais! Uma viagem e tanto, com direito a aprender um monte de coisas diferentes.
O preço parecia justo.
Depois que tudo ficou acertado, a estrelinha, feita da mais pura luz, mergulhou em direção à Terra e chegou no setor de recepção do planeta para conseguir um corpo no qual pudesse se aninhar. Tinha que ser um corpo de carne e osso, feito com a mesma matéria do planeta.
A chegada da estrelinha foi mais ou menos assim:
- Estrela: “Acabei de chegar ao planeta e preciso de um corpo onde eu possa me aninhar”.
- Guardião da Terra: “Seja Bem-Vinda! Você sabe que precisará dar uma mãozinha na cura do planeta enquanto estiver por aqui, não sabe?”
- Estrela: “Sei, sim. Pensei que eu poderia me responsabilizar por um pouco de inveja... hã... e talvez um pouco de tristeza também.”
- Guardião da Terra: “Que bom... Será que você daria conta de um pouquinho de ódio? Tem tanto por aqui... ia ser ótimo se você nos ajudasse a transformar um pouco em amor!”
- Estrela: “Acho que dou conta sim. Me dá também um pouco de medo, ok? Mas só um pouquinho.”
Aí, o Guardião da Terra separou uns vidrinhos com tudo o que a estrela tinha pedido, misturou com um pouco da terra do planeta, moldou bem e colocou a estrelinha lá dentro. Depois cuidou para que esse molde fosse encaminhado para a família mais adequada, uma família que a ajudaria a cumprir o que tinha prometido fazer durante sua estadia por aqui.
“Boa Sorte, Estrela!
Assim nascemos, poeira de estrelas disfarçada de gente, andando por aí. Tudo ia muito bem até que, em determinado momento de nossas vidas, ainda na infância, todos aqueles sentimentos que o Guardião da Terra tinha misturado no nosso corpo começam a acordar. E a sombra que mora no planeta começa a vir a tona através de nós.
Inveja, tristeza, ódio, medo...
Só para esclarecer, esse Eu, essa mistura de terra com todos aqueles sentimentos que precisamos curar, é o que estou chamando de EU INFERIOR, ok?
Todos nós temos um Eu Inferior. Relaxa, você não é o único!
Muitas pessoas se sentem culpadas por terem um Eu tão feio assim, que rosna e baba nas pessoas, isso sem falar nas mordidas que distribuímos por aí! Mas não há motivos para você se sentir mal por ter um Eu Inferior.
Sempre que você der de cara com o bicho feio que mora em você, lembre-se: esta é a sua chance de curá-lo e, ao fazer isso, você estará ajudando a purificar um pouco do planeta. E ISSO FOI O QUE VOCÊ VEIO FAZER AQUI.
Toda vez que conseguir se lembrar da sua luz, toda vez que conseguir transformar esses sentimentos negativos em algo melhor, cada vez que reciclar um pouquinho desse lixo que está dentro de você (e de todos nós), estará participando ativamente da cura da Terra.
Estamos de acordo?”