Houve coisas que eu demorei para aprender.
Durante anos, eu estive completamente indisponível para o entendimento – apesar de totalmente aberta para o conhecimento.
Curiosa, extrovertida, rápida, espirituosa.
Fui a personificação daquele discurso (insuportável): uma menina que tem tudo, que nunca passou necessidades, sempre rodeada de pessoas e de muito amor. Afinal, o que poderia estar faltando?
Eu não sabia, mas sentia falta de mim mesma, de dirigir o meu olhar amoroso e compassivo para mim mesma. De tomar contato com quem eu realmente era.
Precisei construir com as minhas próprias mãos a ponte entre mim e quem eu sou – embora não soubesse o que estava construindo. Desde então, caminho sempre acompanhada.
Qual não foi a minha surpresa ao presenciar, em uma escola que aplica a Pedagogia Waldorf, crianças com menos de seis anos construindo, de forma lúdica, as suas próprias pontes.
Crianças disponíveis, férteis e livres, assistindo os seus próprios pais romperem barreiras pessoais para representarem, em um teatro, a fábula da Menina da Lanterna.
Uma menina que, assim como eu, não estava em contato com a sua luz. Que, assim como eu, buscou respostas e clamou por sinais. Que transitou por morros e vales. Que pediu ajuda.
Assim como ela, em um amanhecer qualquer, encontrei-me. Pisava o chão com mais firmeza. Olhava-me com mais respeito. Amava-me com mais profundidade.
Acredito ter ouvido a minha alma sussurrar: “Hoje, quem se curva na sua presença sou eu. Você, que escolheu o trabalho mais difícil: ser humana, viver a ilusão da completa desconexão, tatear o caminho com as pontas dos dedos. Você, que despertou em meio ao caos, que personificou a gentileza em um mundo de individualismo, que abriu os olhos do coração.”
Nesse momento, senti que isso era tudo o que eu buscava e tudo o que eu não podia perder. A única validação necessária – a do meu próprio ser – dependia, apenas, da minha absoluta integridade.
Assim como a Menina da Lanterna, plena de mim mesma, em contato com a força da (minha) vida, permito-me extravasar, permito-me oferecer suporte, permito-me estar presente e disponível, permito-me servir de instrumento.
“Apenas toque a vida com delicadeza” – sim, ainda conversamos através de sussurros.
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