terça-feira, 4 de outubro de 2016

Sozinha, não solitária.




Um dia me disseram que um dos meus desafios nessa vida seria aprender a ficar sozinha.

Considerando que eu nasci em uma família enorme e absurdamente unida (que almoça e janta junta quase todo dia), ficou claro, de início, que eu precisaria aprender a ficar sozinha em meio ao barulho – e não literalmente sozinha no mundo.

A mente compreendeu o processo.

Agora a espiral do despertar retorna a este ponto e, mais profunda que nunca, atinge em cheio o meu corpo emocional, mostrando que o que a racionalidade compreendeu, o coração ainda não havia absorvido.

Vejo-me, de repente, com diversos processos emocionais não concluídos. Pior, nenhum caminho à frente.

Como encontrar uma estrada que nunca ninguém trilhou, pois é sua e só sua? Como encontrar a estrada que leva ao meu coração, se ninguém mais a conhece?

Hoje, ouvindo a música Mantra do Nando Reis, senti como se tivesse encontrado a chave para o processo que estava em curso.

Não se trata de caminhar solitário, trata-se de caminhar sozinho, ainda que acompanhado.

Não se trata de perder tudo, trata-se de desconstruir tudo e, se assim desejar, recomeçar.

Não se trata de fugir de relações cármicas não concluídas, muito pelo contrário! Trata-se de vivê-las com a consciência e a profundidade desejada pelo ser, curando, em conjunto, as dores, os sofrimentos, as mágoas.

Não se trata do outro, trata-se de você mesmo, da sua autopercepção, do seu amor próprio, da compaixão que consegue dispensar a si próprio.

Não se trata de caminhar em direção ao coração, trata-se de perceber que você nunca saiu de lá e, então, aquietar-se, acomodar-se e permitir que todo o processo se desenrole.

Todos os conselhos que eu dei a todos vocês, eram, na verdade, para mim.

Todos os olhares de aceitação e cumplicidade que eu ofereci a vocês, eram para mim mesma.

Todo o acolhimento que eu ofereci a vocês, era para mim mesma.

E agora, que eu preciso profundamente de aceitação e compaixão, todos vocês estão aqui comigo, como espelhos, refletindo para mim todos os abraços que eu dei, todo o carinho, todas as palavras de apoio e empoderamento.

Estou sozinha, mas não solitária, rompendo com toda a dor que em mim se fortaleceu pela negligência.

Estou sozinha, mas não solitária, acolhendo com profunda gratidão todas as minhas relações, pois me proporcionam o aprendizado desejado, a cura necessária, o equilíbrio maior.

Estou sozinha, mas não solitária, aberta, vulnerável e imperfeitamente perfeita.

Devagar a espiral volta a se mover. Mas sei que, cada vez mais profunda, ela retornará, até que tenha atingido todas as minhas raízes, certificando-se de que estou firme o suficiente.

E eu estarei.

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