terça-feira, 20 de junho de 2017

A força da honestidade






Falhamos tanto com a honestidade. Tanto.


Esse tema tem sido recorrente nas redes sociais, com os mais diversos nomes. Mas ler é uma coisa, conseguir trazer para dentro das nossas relações é outra.


Durante o final de semana, uma das minhas Marias compartilhou reflexões de uma palestra dobre Comunicação Não-Violenta. Uma delas dizia:


“as pessoas sabem o que são fatos nas relações, mas existe um código silencioso sobre não expressar verdades inconvenientes. Isso é o que fragiliza as conexões pois pontes genuínas de confiança nunca são construídas. A verdade mexe, bagunça, gera mudança. Verdade é movimento. Assim, quando a gente deixa de falar a verdade sobre o que nos importa, nossas necessidades (aquilo que nunca deve cessar) e valores, a gente vai morrendo aos poucos.” Dominic Barter



A honestidade está diretamente ligada à comunicação não-violenta.


Trata-se de permitir que a sinceridade e a transparência guiem os nossos relacionamentos, expondo a nossa percepção pessoal de forma objetiva. 


Mas será que as pessoas realmente querem saber como nos sentimos? Será que as pessoas conseguem lidar com o reflexo delas em nós?


Ou pior, será que já não conhecem e fingem não saber, porque torna a situação cômoda? Pois, como disse Dominic, a verdade mexe, bagunça, gera mudança.


A zona de conforto pode ser muito violenta. 


Nela emudecem-se os nossos conflitos e insatisfações. Nela cala-se a raiva e a frustração. Nela sacrifica-se o impulso mais puro da essência: o movimento!


Para mim, hoje, viver a honestidade tem um viés de egoísmo necessário.


Não se trata de despejar no(s) outro(s) a responsabilidade pela nossa satisfação pessoal, mas de permitir (e talvez exigir) que o nosso sentimento seja conhecido – o que viabiliza o crescimento mútuo, o que serve de combustível para as metamorfoses necessárias.


Somente a verdade nos permite crescer.


Quando nos calamos, quando deixamos de nos manifestar, quando não verbalizamos, praticamos, antes, uma violência contra nós mesmos.


Prendemos dentro de nós uma energia que não deseja ficar, ao mesmo tempo em que tiramos do outro o direito de saber como nos sentimos em relação às suas atitudes.


Criamos abismos profundos e carregamos conosco pedaços de relacionamentos mal resolvidos, assuntos que não tratamos, palavras que não engolimos – outras que não falamos.


Quantas e quantas vezes retornamos a algumas situações vividas e pensamos: “ah, mas se eu tivesse dito”, “por que eu não disse?”, “deveria ter falado”, “deveria ter feito”. 


Perdemos a espontaneidade em busca de aprovação. Puro medo. Pura necessidade de pertencimento.


(In)felizmente, aviso, não há garantias e nada será levado conosco – a não ser o que foi vivido com verdade, com emoção, com aprendizado.


Quanto tempo perdido: estamos aqui para nos relacionarmos, mas acabamos vivendo peças teatrais.


Desconhecemos os nossos próprios sentimentos.


Desconhecemos o caminho do coração.


Perdemos a habilidade de trocar com autenticidade, a ponto de considerarmos ofensivas as investidas de honestidade do outro, fazendo com que se cale, mantendo estática e segura a relação.


Eu quero falar sobre isso.


Eu quero falar sobre as minhas experiências.


Eu quero falar com todas as pessoas que eu deixei que me machucassem.


Eu quero falar com todas as pessoas que me ofereceram amor e eu não soube receber.


Eu preciso falar. Eu preciso ouvir.



O coração está exposto e, para ele, a violência reside em privá-lo de se emocionar.

A couraça não me serve mais.

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