segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Profundamente

 


Tempos difíceis nos permitem explorar as nossas fraquezas.

Quando não há distrações, quando não há para onde fugir, encarar as verdades por trás das aparências é obrigatório.

Podemos passar a vida observando as nossas águas rasas, falando sobre a linda paisagem espelhada em sua superfície, sobre os visitantes que nela se divertem no verão. Podemos falar sobre os invernos solitários, sobre as noites de tempestade, sobre o vento que sopra do norte, cobre a superfície de entulhos e turva a nossa visão.

Mas, um dia, inevitavelmente, teremos que mergulhar. Lá no fundo, onde não vemos reflexos externos, onde o vento, o inverno e verão não chegam, onde a única paisagem existente é a força que sustenta o nosso caminhar.

São águas escuras.

Descemos tateando os pilares que sustentam cada uma das nossas crenças e, veremos, não chegam ao fundo. Estão à deriva, enredados, apenas, nos nossos pensamentos.

O que guia o nosso caminho até o fundo são pilares mais simples e mais robustos, que jamais havíamos visto da superfície. Estavam eclipsados pela paisagem, pela euforia dos verões, pela solidão do inverno.

Sua estrutura imponente parte da nossa essência e, raramente, atravessa a superfície.

O que sabemos de nós mesmos, se nos confundimos com a paisagem, com os reflexos, com as mudanças exteriores?

O que compreendemos da vida, se construímos a nossa história sobre pilares desconectados da nossa verdade interior, que se movem e nos movem conforme o desígnio de forças exteriores?

O que é transitório, o que é eterno?

O que podemos extrair dessa experiência e fará parte de nós pela eternidade?

O que é capaz de nos libertar e o que apenas vai nos aprisionar?

Confesso, na turbulência da superfície, muitas vezes eu me sinto prisioneira. Prisioneira do passado, prisioneira do futuro.

Apenas a profundidade me liberta.


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