sábado, 16 de maio de 2020

Um sonho. Uma chance.




Eu estava em pé naquela colina... e era a única.  

Lembro que eu vestia uma espécie de armadura, segurava uma espada e estava em posição de defesa.  

Cansada, mas disposta a lutar.  

Não havia mais ninguém lá. Apenas corpos caídos por todos os lados. 

Um olhar mais demorado mostrou-me que aqueles corpos deitados eram todos meus.  
Cada um deles. 

À esquerda havia um portão. Ele não era físico e não tocava o chão, mas eu o via com clareza.  

Aquele era o cemitério de mim.  

O que eu fazia lá? Por que eu velava meus próprios cadáveres? Qual era a história que eu tentava defender? 

Recebi um forte impulso forte para sair de lá, mas algo me conteve: como vou deixar meus corpos aqui?  

Começou um burburinho. 

Eu ouvia a minha própria voz vindo de todos os lados:  

- por favor, vá! 
- você é a única que ainda pode seguir, faça isso por nós! 
- viva e viva por todas nós! 

Cada frase criava uma onda de impacto capaz de mover o meu corpo. Em determinado ponto, cheia de estímulo, de força e de vida, com passos acelerados, eu passei pelo portão. 

Ficaram para trás as histórias de dor, os vínculos criados na inconsciência. 

Ficaram para trás as vítimas que não faziam mais do que manter acorrentados os seus malfeitores. 

Ficaram para trás as agressoras embrutecidas pelo arrependimento. 

Ficaram para trás os círculos viciosos, os extremos que demandavam alternância. 

Muito mais que leveza, o sentimento era de puro vazio. 

Eu liberto todos os seres que já conviveram comigo do meu anseio por justiça. 

Eu me liberto do medo de recompor as minhas falhas com o sofrimento. 

Eu liberto o agressor. 

Eu liberto a vítima. 

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