sábado, 4 de abril de 2020

Para ser tudo que se é...





Existe uma frase de Osho que, volta e meia, vem à minha mente: 

“As pessoas primitivas têm algo em comum com as crianças pequenas. São alegres, espontâneas e naturais, mas totalmente inconscientes daquilo que são. Para que possam amadurecer, primeiro elas têm que perder toda a sua espontaneidade, tornar-se civilizadas, educadas e desenvolver uma cultura, uma civilização, uma religião. Precisam esquecer completamente sua essência para que um dia sintam falta dela.” 

Lembro dela cada vez que alguém se espanta com a minha espontaneidade. 

Lembro dela cada vez que cruzo com um triste homem sério. 

Lembro dela cada vez que alguém sente dificuldade em receber ou oferecer amor. 

Apesar de eu não me encaixar perfeitamente nela – porque nunca me senti realmente distante da essência , de alguma maneira ela explicita uma busca necessária por maturidade que, para ter verdadeiro valor e utilidade, precisa prever um retorno a si mesmo em forma de respeito a tudo que se é (e não a tudo que se tem). 

Nós contemos tudo o que já vivemos, todas as fases, todas as histórias. 

Somos crianças nos momentos de descontração e de conexão, somos eternos adolescentes quando nos permitimos viver as nossas paixões, mas só nos tornamos adultos de fato quando conseguimos colocar tudo isso em ordem. 

A criança dentro de mim é tão segura de si, que extravasa com naturalidade. Ela não oferece amor esperando retribuição, ela simplesmente é esse amor. E amar alimenta o amor. 

Ela tem essa potência porque foi vista e integrada pela Talita que caminha hoje sobre a Terra. 

Mais forte que o adulto, a criança de cada um permanece firme, contendo todas as dores que o adulto ainda não foi capaz de acessar. Mas, a criança que contém a dor, também contém a alegria, a criatividade e o amor. 

Por ter uma criança muito ativa e muito presente, eu sempre fui muito habilidosa para acessar a criança de cada uma das pessoas.  

Isso era e (continua sendo) assustador. Para as pessoas, não para mim.  

É como se eu fosse um ponto atrator que conseguisse trazer todas as crianças para brincar – e trato isso com muita seriedade! 

Sabe, às vezes os adultos são apenas crianças procurando algum tipo de reconhecimento, procurando ser vistas, apreciadas, amadas. O problema é que procuramos isso no lugar errado. Fugimos das raízes, procurando alimento e acolhimento nas extremidades dos galhos. 

Enquanto não libertarmos a nossa criança da dor (especialmente conciliando-a com as raízes) ela estará no comando e assumirá o controle da nossa vida nos acessos de raiva, nas noites de solidão, nos momentos de rejeição. 

Parece-me o trabalho mais importante e mais gratificante. 

A adolescente foi a mais difícil de integrar. Ela trazia em si o ar de uma individualidade que não foi vivida: os meus sonhos, as minhas vontades, as minhas coisas. 

Eu não compreendia o que ela necessitava, não reconhecia esse modelo. Aprendi a ceder, a colaborar, a dividir, a sublimar a dor pelos sonhos não realizados e pelos contos de fadas que desmoronaram – e isso não permitia que eu entrasse na frequência necessária para integrar aquela menina-moleque espoleta.
  
Foi a Talita adulta que aprendeu a se apropriar do seu espaço, dos seus dons, das suas preferências; integrando, assim, aquela onda massiva de energia em forma de menina. 

Adulta eu fiquei há pouco tempo, confesso. Só aceitei esse desafio quando eu descobri que para ser adulta, eu não precisava isolar as minhas outras partes: o meu dever era ser inteira.

Descobri novas formas de me relacionar, sem projetar os meus traumas nos outros. 

Descobri que posso ser eu mesma e que sou capaz de sustentar a minha verdade. 

Descobri que estar na minha pele é o melhor dos sonhos, pois a qualidade da minha grama depende exclusivamente de mim. 

Descobri que eu posso escolher as pessoas com as quais eu desejo estar usando como filtro, apenas, a leveza. 

Ser adulta e poder caminhar de mãos dada com a minha essência (que é predominantemente criança - e não infantilizada) é, para mim, um grande presente.

Eu sou o meu próprio parquinho. 

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