segunda-feira, 3 de julho de 2017

Filhos, os melhores professores!




Eu caminho entre muitas pessoas. Pessoas com todos os tipos de crenças imagináveis.

Literalmente.

Não, não falo de religião. Falo mesmo de crença.

Somos mestres em reclamar dos sistemas em que estamos inseridos, sem perceber que somos, também, mestres em mantê-los e repassá-los.

Isso fica muito claro em cada crítica que eu recebo em relação à criação dos meus filhos. Todas fundadas em crenças que são passadas de geração em geração e que servem, gratuitamente, à manutenção da sociedade e das pessoas tal como estão.

Existe uma resistência inexplicável ao diferente. Ou seria medo? Medo de não ter quem responsabilizar depois. Medo de descobrir que, durante anos, permanecemos escravos de limites que não foram impostos por Deus.

Existe uma resistência inexplicável ao que não está escrito, porque o que já está estabelecido deve ser mantido. O que me faz pensar: tudo no mundo mudou, a medicina, a comunicação, a tecnologia. Por que, então, existem algumas coisas que não podem ser tocadas? Onde está o sentir?

Existe uma resistência inexplicável à leveza, porque, supõe-se, a vida é muito difícil e elas precisam aprender isso em casa, senão vão sofrer muito lá fora. Então eu, mãe, preciso dificultar a vida deles, para que eles se acostumem com um mundo cruel e frio. Eu, mãe, preciso deixar um bebê chorando no berço, senão ele vai se acostumar a se aconchegar no meu colo e a se sentir seguro em um abraço. Eu, mãe, preciso ensinar os meus filhos a beijar e abraçar quando eles não sentem vontade. Eu, mãe, preciso obrigar os meus filhos a comparecerem em compromissos que não desejam, em lugares em que precisam se vestir e se comportar como adultos, para aprenderem exatamente o que?

Existe uma resistência inexplicável ao respeito às preferências das crianças, porque, supõe-se, pepino se desentorta de pequeno. Como se os adultos não tivessem, cada um, suas próprias preferências. Como se a casa fosse uma linha de produção, de onde devem sair seres prontos e adaptados ao sistema, comendo chuchu e brócolis.

Não. Não. Não. E não.

Leiam de novo as frases acima e pensem quantos desses motivos levaram vocês às salas de terapeutas. Quantos desses motivos fizeram vocês se sentirem não merecedores, fracos, inaceitáveis, diferentes, fora do padrão, pecadores.

Parece-me que esse modelo não fez surgir uma geração de pessoas bem-sucedidas e com respeito pela sua individualidade. Fez surgir uma geração de pessoas contidas, sem coragem e sem amor próprio. Fez surgir uma geração que se adapta, como que mendigando por respeito e aceitação. Fez surgir uma geração individualista, que não olha nos olhos para não precisar se envolver com os problemas do próximo, que grita por um pouco de humanidade.

Não, sinto muito, mas não temos nada a ensinar às nossas crianças. Precisamos aprender.

Por isso, tomo cada crítica à minha forma de criar os meus filhos como um elogio.

Sinto-me divina aprendendo com eles.

Sinto-me divina curando a minha criança através das lindas lições de amor que recebo.

Sinto-me divina a cada cartinha, a cada bilhetinho, a cada colo encaixadinho – ah, sim, os presentes são todos pra mim.

Sinto-me divina a cada passo que consigo dar em direção à libertação da minha expressão mais pura, do meu canto, da minha dança, do meu movimento autêntico.

Sinto-me divina ao ter a oportunidade de guardar as qualidades mais puras de dois seres tão maravilhosos e perfeitos (pois assim os recebi do Criador). Que crime seria adaptá-los! Estou certa de que cada uma dessas características fará a diferença nos lugares onde estiverem.

Sinto-me divina ao ensiná-los (relembrá-los) sobre a natureza, sobre um Deus de amor, sobre a conexão que há entre todas as coisas, sobre serem humanos de verdade, sobre serem perfeitamente imperfeitos, sobre permitirem-se errar, sobre empatia, sobre autenticidade, sobre chorar, sobre verbalizar as insatisfações (usem as palavras!!!!), sobre buscarem lugares e pessoas que os façam sentir-se confortáveis.

E não estou preocupada se estou certa ou errada. Estar e ser sempre certa (dentro dos padrões familiares e sociais) rendeu-me anos de todos os tipos de terapia que existem.
Agora estou aprendendo o caminho do sentir e nele não há erros. Há, apenas, caminhos que têm amor e caminhos que não têm.

Ainda há tempo de sair da posição de responsável por moldar o seu filho para o mundo (se existe pecado, aposto que esse é um). Ainda há tempo de caminhar no sentido inverso e, em vez de se irritar com as suas próprias sombras e insatisfações (refletidas nos gritos e espontaneidade dos seus filhos), resgatar a sua criança e os seus sonhos não realizados. Ainda há tempo de mostrar para o seu filho que ele é perfeito e aceito como é.

Finalizo com a ajuda dos meus filhos:

Felipe: Filho da mãe é o melhor xingamento que existe, porque é muito bom ser filho da sua mãe!

Maria Júlia: E, sim, algumas pessoas não têm amor, isso que é triste. Como quem não tem comida para comer.


Assim é.

2 comentários:

  1. wow! genial! maravilhoso! parabéeeeens!!!!!

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  2. Ainda há tempo de você aceitar que você é tão perfeita quanto os seus filhos! E cada dia que passa fica mais consciente de sua mestria. Parabéns querida!

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