quarta-feira, 20 de junho de 2018

Relacionamentos e hortas





Relacionamentos e hortas têm tudo a ver.

Quando você escolhe as plantas que deseja ter em uma horta, precisa dedicar um pouco do seu tempo e da sua atenção para conhecê-las melhor.

Deve pesquisar em que tipo de terra elas se desenvolvem melhor, se gostam de sol, quantas vezes por semana precisam ser regadas, com quais outras plantas se relacionam bem, a que tipo de pragas estão sujeitas e de que forma pode ajudar a superá-las, se os frutos devem ser colhidos ainda verdes (para que finalizem o processo de amadurecimento com a sua ajuda) e assim por diante.

Não existe a mínima possibilidade de agir contra a natureza delas. Faltou água, elas morrem. Excesso de sol, elas morrem. Colhe o fruto antes da hora, ele perece. 

Assim são as pessoas. Ainda que consigam se adaptar, ainda que se permitam ceder em alguns pontos, passou do limite, perdem o viço, perdem a graça, tornam-se desinteressantes.

Em um relacionamento você precisa colocar a sua atenção verdadeira no outro e compreendê-lo, aceitá-lo, acolhê-lo. Jamais possuí-lo, controlá-lo, inferiorizá-lo.

Precisa saber o que move o seu parceiro e ajudá-lo a manter essa chama acesa, intocada.

Precisa saber o que mexe com ele, quais os argumentos poderia usar para fazê-lo agir exatamente como você quer, apenas para jamais usá-los (porque você não deseja receber dele nada que não flua naturalmente da sua essência).

Precisa saber como ele gosta do café, o que ele gosta de passar no pão, o tipo de lençol que lhe agrada a pele, os lugares que ele gostaria de conhecer, como ele gostaria de envelhecer.

Precisa respeitar o tempo dele, sem exigir que ele ofereça sementes ou frutos antes do tempo.

Precisa acolher o outro com as suas fraquezas, os seus traumas (todas as pragas às quais está suscetível), colocando-se na posição de auxiliador, se assim for demandado.

Esse nível de compatibilidade é muito valioso, muito verdadeiro. Quando há verdade nada é forçado ou manipulado: há duas naturezas que convivem (por opção) e se manifestam harmoniosamente.

E de repente você enxerga que não há, ali, apenas dois corpos que se encaixam com a maior naturalidade do mundo. Há, ali, um encontro marcado entre seres que se comprometeram a se ajudar, a crescer, a amadurecer.

Só é possível crescer em verdade quando não simulamos para agradar o outro, abandonando aspectos caríssimos de nós, fragmentando a nossa essência.

Só é possível crescer quando a terra é adequada, quando o sol e a água nos são dados na medida certa, quando a temperatura (quase sempre) é propícia.

Só é possível crescer quando se aceita a transitoriedade das coisas e das pessoas, sendo grato por cada momento em que é possível a convivência, sabendo que amanhã tudo pode ser diferente - não existe segurança ou garantia de nada.

Não existe gaiola que prenda um coração.

Talita Rebello
02.05.2016


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