quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Em qual porta você bateu?




O meu processo de despertar não foi chocante, nem repentino.

Na verdade, eu não consigo me lembrar de, um dia, ter estado completamente adormecida.

Eu sempre fui diferente – irreverente, era o que a minha mãe costumava dizer para justificar o meu desapego às regras de conduta, aos costumes, aos limites impostos às mulheres.

Apesar da minha postura moderninha, como todos os nascidos em berço Católico, participei de forma bastante ativa da Igreja durante a minha infância e início da adolescência: fiz catequese, fiz crisma, era parte de um grupo lindo chamado A Legião de Maria.

Conta a minha mãe que, lá pelos 10 anos, ao deixar o confessionário no dia da minha primeira confissão, o Pároco, que me aguardava do lado de fora, ouviu-me dizer: “mas que cagada!”. Ele contou isso na missa de domingo.

Eu comecei a sentir, de fato, o peso da culpa católica quando eu comecei a namorar.

A ideia era fazer com que eu me sentisse observada a todo momento. Vigiava-me um Deus que considerava o sexo um instrumento muito mal utilizado pela humanidade – pois servia, apenas, para procriação e o seu uso por prazer era pecado. Ele, então, saberia que eu estava a repetir o pecado original, que manchara toda a humanidade.

Não era diferente do que eu aprendi em casa.

Mas como eu nunca me contentei com respostas prontas, eu decidi pagar o preço do pecado e deixar o meu corpo conhecer o amor.

Seria, de fato, errado e sujo comungar o corpo com alguém?

Seria pecado sentir esse desejo de fundir duas existências, ainda que por um breve momento?

Foi assim que eu descobri que o meu corpo era inocente. Reconhecê-lo assim foi o meu primeiro milagre.

Eu não apenas não aceitava a culpa católica, como ela me causou uma grande revolta. Passei a questionar as escrituras e a postura de todos os propagadores das ideias que, sabia eu, não eram verdadeiras.

Era, para mim, inaceitável a ideia de passar a vida na berlinda e morrer com medo de ir para o inferno.

Bastava olhar em volta para me reconhecer na natureza de todas as coisas, na fartura e na abundância da natureza, na beleza e no milagre da procriação.

Mas, internamente, o medo de estar falhando com Deus me consumia. Estaria eu errada? Estaria Deus, de fato, descrito e esgotado em um livro? Estaria, eu, de fato, gravada com o pecado original e haveria de passar a vida tentando me redimir?

Afastei-me por completo da instituição.

Tirei Yeshua da cruz e o levei comigo (confesso, para mim, Ele sempre sorriu!). 

Tudo foi se ampliando aos poucos, sem sustos, sem grandes revoluções.

Perguntam-me, hoje, em que eu acredito. A minha resposta é: em tudo, até em você!

Quando eu encontrei o espaço em que Deus habita em mim, encontro-O em qualquer casa, em qualquer templo, em qualquer livro, em qualquer pessoa.

Não existe nada, nem ninguém, dissociado da fonte.

Pude, então, voltar os olhos para a minha raiz Católica e, sem revolta alguma, desconsiderar os emissores e ressignificar as mensagens conforme o meu próprio sentimento.

Voltei, instintivamente, a fazer o sinal Católico (que não chamo de sinal da cruz), mentalizando: une-se, em mim, o céu e a terra, o passado e o futuro.

Kryon, em uma de suas maravilhosas mensagens, disse algo assim: “Imaginem-se pais que se perderam de seus filhos. Imaginem que, um dia, depois de anos de dúvidas, esse filho bate na porta da sua casa. Faria diferença, para você, se ele veio de ônibus, de cavalo, de bicicleta? Como você se sentiria em relação à pessoa que, vendo-o ir de bicicleta, criticasse o seu caminho e fizesse com que ele retornasse ao ponto de partida, para, então, seguir outro meio que o levasse ao mesmo lugar?

O caminho me ensinou sobre respeito.

O caminho me ensinou que Deus está presente em todas as portas.

Essa foi a porta em que eu bati.


Qual foi a sua?

4 comentários:

  1. Tali, amo essa tua intensidade, me vejo e me identifico imensamente com os teus textos. É tanto amor que não cabe num só ser ou numa só existência, tem que ser o Todo, tem que ser o Infinito. <3

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  2. Tali, amo essa tua intensidade, me vejo e me identifico imensamente com os teus textos. É tanto amor que não cabe num só ser ou numa só existência, tem que ser o Todo, tem que ser o Infinito. <3

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