Tenho pensado em como a confiança é parte determinante do processo.
Não falo da confiança arrogante, mas da confiança no caminhar.
Não falo da confiança no outro, mas da confiança no que se planta.
É quase como estar ancorado em si mesmo.
Penso que, talvez, crescer em um ambiente em que as necessidades da criança são supridas tenha um grande impacto. Pais e mães com disponibilidade emocional, escuta ativa, sensibilidade para validar cada ser colocado sob o seu cuidado.
Talvez essas crianças não se tornem adultos que precisam provar o seu valor e desejam conquistar o mundo. Reconhecem que ser já é imenso – e uma grande habilidade em meio a um mundo de clones.
Esses dias presenciei um espetáculo em que o artista convocava um homem e uma mulher para participar de um ato. Era uma plateia mista, havia adultos e crianças.
Um homem se voluntariou e foi até a frente da plateia.
Uma menina de quatro ou cinco anos se voluntariou para ser a mulher. Caminhou até a frente da plateia com a confiança de uma grande e valiosa alma, recebeu as instruções e cumpriu o seu papel.
Essa menina me marcou profundamente, porque, apesar estarmos (eu e a minha criança), naquele momento, de mãos dadas e corações unidos, fez-me lembrar que eu a perdi durante uma fase da minha vida.
Fui uma criança muito confiante, muito extrovertida e cheia de energia. Fui vista, validada e ouvida. Fui levada em consideração.
Entretanto, o mundo era cruel demais pro meu grande coração aberto. Permiti que tudo em mim fosse questionado, julgado e diminuído. Cruzei com toda espécie de tirano que se possa imaginar.
Não perdi contato com a espontaneidade, com a fantasia, com a criatividade, com o mundo interior. Contudo, por força da comparação, eu perdi contato com o meu valor no mundo.
Eu não era bonita (meu cabelo era encaracolado e tinha vida própria).
Eu não era encorpada (era, aliás, magérrima).
Eu não era rica (eu era levada de fusca azul para a Cultura Inglesa).
Mas eu tinha para onde retornar. Não demorou para que eu reconhecesse a bênção de ser quem eu era – e reconhecer as limitações e as dores de todos os meus tiranos e julgadores.
Meu cabelo encaracolado e livre.
A magreza que me permitiu chegar à maturidade sem desgostar do meu corpo.
O esforço coletivo na minha criação, que me ensinou a beleza da cooperação (que saudades do fusca azul).
Reconheci a beleza e a riqueza onde sempre estiveram.
Profundamente sustentada, eu tinha força para ser quem eu era.
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