quinta-feira, 22 de março de 2018

Escolha as qualidades divinas.




Certa vez, muito inspirado, o Luís Fernando Rostworowski falou uma frase que mudou instantaneamente a minha forma de enfrentar as situações que se apresentariam na minha vida. Disse ele:

“Precisamos perguntar a nós mesmos: qual é a qualidade divina que deseja se manifestar nesse momento?”

Isso bateu fundo.

Depois de ressignificar o Criador; depois de compreender que eu vivo em um universo de amor (que apenas devolve o meu mais puro reflexo, até que me seja possível amá-lo); eu compreendi que a mim também cabe, a cada momento, escolher plantar o amor, a compreensão e a sabedoria em todas as situações que me são apresentadas, reescrevendo a grade energética com um novo paradigma.

Podemos, em todos os momentos, continuar agindo de forma automática, crítica, julgadora, reativa, explosiva; ou, então, dar uma chance ao outro extremo: em vez de responder com vitimização, escolher a autorresponsabilidade e investigar o que, em nós, ressoou com o ato a ponto de vê-lo manifestado em nossa vida.

A cada parada para reflexão, aprimoramento.

Quantas vezes nós escolhemos a guerra, a divisão, a fuga? Escolhemos viver em estado de belicosidade e anestesia, mantendo círculos viciosos e relações superficiais.

Alimentamos instrumentos de segregação sem sermos capazes de acessar a dor que nos conecta a esses movimentos. Discutimos por futebol, por opção sexual, por cor, por religião, por métodos terapêuticos; quando, na verdade, apenas desejamos (profundamente e dolorosamente) pertencer a um grupo que nos ame, nos apoie e nos defenda. Desejamos estar certos, sob pena de invalidarmos as certezas e o longo caminho que trouxe até aqui.

Vemos, no diferente, a possibilidade e o pânico da mudança... o pavor de precisar rever os fortes posicionamentos que nos fizeram juízes do caminhar do outro.

Apavorados, assistimos a vida passar e o corpo enrijecer. Quanta energia desperdiçada, quanto cansaço, quanto controle.

Tal qual o corpo, a vida deseja o movimento. Deseja alongar-se, elastecer-se, dilatar-se, expressar-se.

Yeshua, quando pisou esse solo sagrado, disse: 

"Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas".

As crianças assumem a sua vulnerabilidade, expressam os seus sentimentos (com corpo e com som), vivem o agora com intensidade, são persistentes e sinceras. 

As crianças têm sede de amor, têm sede de contato, têm sede de vida.

Elas estão entregues, flexíveis, coradas, suadas.

Então, que tal se em vez de insistirmos em ensinar às crianças o quanto o mundo é difícil (pois, veja, nele há pessoas difíceis), aprendermos com elas a manifestar o Reino dos céus na Terra, no agora?

Abrace mais. 

Colabore mais. 

Expresse sentimentos. 

Dance. 

Ria. 

Brinque. 

Cuide da sua própria vida e seja muito persistente nisso.

Seja você essa pessoa e facilite a sua própria vida. Seja um agente, não um  mero reagente ou um expectador do tempo.

Coloque a sua criança e as suas qualidades divinas em movimento!

sexta-feira, 9 de março de 2018

Desfazendo as malas




Eu estava assistindo a alguns TED’s e me deparei com um de Justin Baldoni, desafiando os homens a usarem as mesmas qualidades que usam para serem “homens o suficiente”, para olharem para si mesmos.

Ele estava estimulando os homens a acessarem o campo do coração, a se expressarem. Em certo ponto, ele fala:

- “Você é confiante o suficiente para ouvir as mulheres em sua vida, para ouvir as suas ideias e soluções, para abraçar/aguentar as suas angústias e realmente acreditar nelas, mesmo que o que elas digam seja contra você?"

De fato, a grande maioria dos homens tem dificuldade de expor as suas vulnerabilidades e angústias – e acessar esse campo na sua parceira depende, necessariamente, de uma passadinha pelas suas próprias angústias.

Mas eu penso que essa pergunta serve a ambos os universos. Somos, nós, confiantes o suficiente para ouvir o outro? Para parar, respirar, sair do estado de defesa e olhar na mesma direção que ele olha?

Nenhum de nós entra puro em um relacionamento. Todos levamos para dentro de casa uma complexidade imensa (que nós mesmos não conhecemos, nem compreendemos) e, infelizmente, não desejamos enxergar.

Passamos a projetar no outro as nossas angústias e os nossos medos. Criticamos o comportamento, a criação, os hábitos.

Precisamos aprender a desfazer as nossas malas juntos, em vez de cada um passar a vida arrastando a sua própria bagagem.

Para isso, é indispensável aprendermos a ouvir o outro, mesmo que o que ele diz nos pareça bobo, dramático ou sem sentido.

Certa vez, no início do meu relacionamento com o meu marido, eu havia me chateado com alguma coisa e murchei. Eu tinha o hábito de me calar, porque eu nunca fui ouvida, porque eu estava sempre errada, era louca ou via chifre em cabeça de cavalo (no caso a minha). Pois ele me colocou no colo e disse: “você não sai daqui enquanto não falar o que foi que te incomodou tanto assim. Vamos resolver isso juntos.”

Eu simplesmente ouvia: Se é o que você está sentindo, é importante para mim.

Quantos e quantos relacionamentos terminam porque nós julgamos as reclamações do outro conforme o nosso próprio ponto de vista? “É bobagem”, “ela só reclama”, “não estou fazendo nada demais”, “isso é coisa de homem”...

O outro nos diz quem ele é o tempo inteiro, mas nós não estamos disponíveis para vê-lo de fato. Não ouvimos os seus pedidos de ajuda, não ouvimos as suas insatisfações, não compartilhamos os seus sonhos.

Queremos, por outro lado, receber tudo isso que não damos. Queremos ser vistos, compreendidos, amados incondicionalmente, suportados em nossas aflições. Queremos uma pessoa pronta para satisfazer a nossa visão romântica de relacionamento.

Projetamos no outro estereótipos de perfeição e exigimos que se comporte conforme as nossas expectativas, forçando-o a sacrificar a sua essência, os seus hábitos e as suas amizades como prova de amor. “De repente”, temos ao nosso lado uma pessoa despedaçada, desinteressante e sem vida.

A realidade é que atraímos para a nossa vida a pessoa certa. Sempre.

Vibração. Magnetismo. Plano de alma.

Apenas transformando a nós mesmos é que passaremos a um estado em que atrairemos outro tipo de relacionamento – o que pode acontecer com a mesma pessoa que já está ao nosso lado.

Torne-se um observador de si mesmo. Aprenda a reconhecer os padrões familiares. Identifique os seus gatilhos, as suas crenças e as suas dificuldades de relacionamento. Isso certamente reverberará no seu parceiro.

Para ouvir o outro, é preciso que aprenda a ouvir a si mesmo.

Para ver o outro, é necessário que aprenda a ver a si mesmo.

Para sentir o outro, é necessário saber o que é seu e o que não é seu.

Seja, você, um agente de transformação do seu próprio universo.

Empatia começa por dentro.

segunda-feira, 5 de março de 2018

A dor que eu escondia, escondia um lindo caminho.



Quando damos de cara com as nossas feridas e não é mais possível escondê-las, surge um pavor e uma dor tão lancinante, que nos faz pensar em fugir - como se mudando o entorno, fosse possível voltar ao estado de anestesia.

Penso que, se assim quisermos, podemos passar toda uma existência anestesiados, procurando um culpado aqui, outro acolá; trocando de relacionamentos, mudando de trabalho, alimentando vícios. Somos bastante criativos.

Ano passado eu cheguei nesse lugar. Eu podia olhar o meu algoz nos olhos - e não era mais possível fugir de mim. Eu estava parada à beira de um precipício e era chegada a hora de um passo de fé: ser eu mesma.

Foram-se dias e dias de retrospectivas e, em todas elas, a minha permissividade e a minha vontade de agradar eram tão gritantes, que eu me envergonhei.

Começar de novo era necessário e inadiável. Mas como fazê-lo em um ambiente em que todos estavam tão acostumados à Talita boazinha e prestativa, que constantemente abria mão das próprias vontades para manter a harmonia e, lógico, para ser amada e para ser indispensável.

Eu quis me sentir livre de tudo isso. Eu quis me libertar do meio. Eu quis me libertar dos relacionamentos, das expectativas e das obrigações. Eu quis poder perseguir a mim mesma sem ter que dar satisfações ou explicações a ninguém. Eu quis encontrar um espaço vazio onde, exposta, só eu me visse e, então, pudesse vir a conhecer e a acolher a mim mesma - onde ninguém mais testemunhasse os monstrinhos que viviam dentro de mim.

O meu casamento balançou e quase ruiu. Mas "ele" queria tanto ficar. "Ele" queria me ajudar a parir o meu próprio caos e a dar a luz a esse novo ser que reclamava passagem.

Então, um dia, em sonho, eu dizia a mim mesma: "essa experiência não está pronta para ser encerrada; essa experiência não pode terminar".

Eu entendi que essa cura deveria ser realizada no seio dos meus relacionamentos e de forma exposta. Agir em fuga não era uma opção.

Neste dia eu decidi colocar toda a minha energia no autoconhecimento e na auto-observação em tempo integral.

Todos os dias que se seguiram foram verdadeiras bênçãos. A cada dia eu me expresso com mais segurança, expondo as minhas vontades e ideias, e, assim, vou recompondo com verdades os abismos que eu criei nos meus relacionamentos.

Aquela Talita tentou retomar o comando de todas as maneiras, por meio de todas as brechas - oportunidades em que, atenta, eu identificava (uma a uma) as crenças que me mantinham refém do meu antigo comportamento.

Ela ainda cochicha no meu ouvido, mas eu já reconheço a sua voz rouca e birrenta: a minha velha conhecida, aquela a quem amo, aquela a quem sou grata, aquela a quem honro; mas que não mais me domina.

Dar passagem à minha autenticidade foi um serviço prestado a mim e a todos à minha volta, pois, identificando os mecanismos pelos quais exerciam controle sobre mim, todos precisaram repensar e adaptar os acessos à minha vida. O meu movimento movimentou a todos.

Estamos aprendendo a respeitar o tempo das pessoas e dos relacionamentos. 

Estamos reconhecendo o valor dos encontros que decorrem de confluências.

Estamos, de fato, percebendo que, do controle, não surgem verdades e não se manifestam essências.

Estamos vendo que atraímos o que somos (lá no fundo!).

Estamos aprendendo a viver, vivendo. Entregando-nos ao fluxo da existência.

Em profunda gratidão continuo o caminho, ao lado de quem tem acolhido esse ser que, nesse corpo (e com grandeza) se manifesta.

A dor que eu escondia, escondia um lindo caminho.