Penso que as nossas
crenças são verdadeiramente testadas quando enfrentamos a partida das pessoas
que amamos.
A despedida é
inevitável, seja qual for a crença com a qual nos afinamos.
De acordo com o que
eu acredito – e essa é a premissa da minha opinião – nascemos e renascemos dentro
de infinitas combinações (e, sinceramente, o porquê disso ocupa mais o meu
pensamento, que a realidade da sua ocorrência).
O que a minha
percepção é capaz de alcançar, é a existência de almas que se dedicam ao
melhoramento dessa experiência produzindo, para isso, incontáveis enredos.
Percebam que eu mencionei
o aprimoramento da experiência – e não a cura de almas perdidas, pecadoras ou
coisa que o valha.
Ouvi, esses dias, um
rabino trazendo uma breve descrição sobre a reencarnação, sob a sua
perspectiva. Dizia ele: “Se você contrata um pedreiro e ele não conclui a
obra a contento, você o chamaria para corrigi-la? Por certo chamaria um mais
competente. Como sou eu que continuo retornando a essa experiência, deve ter
algo muito especial que apenas eu posso realizar – e isso me torna
indispensável para o aprimoramento desse lugar no universo”.
Ele prosseguiu
dizendo que “enquanto determinadas crenças buscam alçar o ser humano à
iluminação, ele acredita que o melhor a se fazer é transformar o pequeno mundo
que nos rodeia em um lugar em que Deus possa habitar” – pois, segundo ele,
esse foi, desde o início, o desejo do Criador.
Penso que as almas são
dotadas de propósitos que as mentes humanas são incapazes de assimilar. Talvez
Talita seja apenas uma pequena experiência de uma alma que escolheu mergulhar
nessa aventura.
Isso me torna tão
desimportante.
Por outro lado, isso
me torna tão útil, tão necessária.
A verdade é que passamos
a maior parte da vida distraídos com o enredo, sem sermos capazes de perceber a
eternidade que permeia tudo o que produzimos (ou que seríamos capazes de produzir)
em uma vida – e o tempo para isso é tão curto (!).
Apenas a morte nos aproxima
do essencial. Apenas quando assistimos os corpos e as mentes dos nossos amores incapazes
de prosseguir nessa aventura, é que voltamos a nossa atenção às perguntas
básicas: De onde viemos? Para onde vamos? Qual o objetivo? Voltaremos a nos encontrar
(ou reencontrar)?
Todas elas sinalizam
algo que, inconscientemente, sabemos: daqui não somos.
Dentre muitíssimas
outras possibilidades, aqui estamos e assim somos.
Jamais reviveremos os
segundos que já assistimos passar.
Jamais reviveremos
os mesmos enredos, com os mesmos personagens.
Por isso a vida é
tão preciosa.
Grandes amigos que
se encontram, grandes amigos que se despedem sem saber como e quando voltarão a
se reencontrar.
Grandes rivalidades
que podem se transformar em grandes admirações.
Grandes desconfortos
que podem se transformar em grandes saudades.
“Como nos relacionamos
com a morte” tem muito a ver com “como nos relacionamos com a vida”.
No momento da
despedida sabemos imediatamente o que deixamos de dar e o que não soubemos
receber. E, dentre todos os arrependimentos, o amor não oferecido pode ser um
fardo bastante pesado a se carregar.
Em regra, apenas no
momento da morte é que percebemos o quanto falhamos em aceitar as
peculiaridades da pessoa que partiu, o quanto fomos incapazes de enxergá-la e entendê-la.
Uma escolha
consciente – apenas uma – é o que nos separa de um “até breve” mais digno.
Eu escolho receber,
absorver, experienciar, enxergar, apoiar e amar a todos os que escolheram
caminhar ao meu lado.
Eu escolho trocar as
lágrimas da despedida, pela capacidade de desfrutar da companhia de cada um dos
meus amores, enquanto estiverem presentes.
Em memória de uma
alma que foi vista em meio à sua incapacidade de tocar a realidade, que foi apoiada
e protegida em sua vulnerabilidade e que, sem arrependimentos, foi entregue ao
mundo dos vivos.