Fatos não são nada por eles mesmos.
Tudo pode ser "nada" - apenas acontece - se não for percebido e decodificado por um ser humano.
Será que fazemos ideia de quantos acontecimentos escapam à nossa percepção? A vida está acontecendo em diversos níveis. Como selecionamos o que captamos?
Seja como for, parece-me que a vida acontece de forma particularizada para cada ser humano: a cada um conforme os seus filtros, as suas dores e os seus desejos.
Além do nosso estreito foco, somos escravos da nossa capacidade de discernimento, de decodificar a realidade, de interpretar a dinâmica da vida. Tudo é relativo e, ao mesmo tempo, tudo é absolutamente real. O que quer que um ser humano seja capaz de experienciar (ainda que fruto de visão curta ou interpretação equivocada), é real.
É algo como experimentar a comida com uma colher suja de sal. Tudo estará insuportavelmente salgado.
O julgamento da realidade depende exclusivamente das ferramentas que conquistamos e do que está construído em nós (sejamos nós mero resultado das dores que nos impuseram ou o protagonista de uma grande reconstrução).
Vítima ou agente, uma coisa me parece certa: a vida não espera de nós eternas justificativas - sequer nos espera. Concede-nos, apenas, um determinado (e curto) espaço de tempo para usufruirmos da experiência terrena.
O que estamos fazendo com o que fora feito de nós? Eis o nosso trabalho.
Quando o meu tempo findar, espero ter sido capaz de prestar um grande serviço à minha alma, espero ter sido capaz de nutri-la.