Um dia me disseram
que um dos meus desafios nessa vida seria aprender a ficar sozinha.
Considerando que eu
nasci em uma família enorme e absurdamente unida (que almoça e janta junta
quase todo dia), ficou claro, de início, que eu precisaria aprender a ficar
sozinha em meio ao barulho – e não literalmente sozinha no mundo.
A mente compreendeu o processo.
Agora
a espiral do despertar retorna a este ponto e, mais profunda que nunca,
atinge em cheio o meu corpo emocional, mostrando que o que a
racionalidade compreendeu, o coração ainda não havia absorvido.
Vejo-me, de repente, com diversos processos emocionais não concluídos. Pior, nenhum caminho à frente.
Como
encontrar uma estrada que nunca ninguém trilhou, pois é sua e só sua?
Como encontrar a estrada que leva ao meu coração, se ninguém mais a
conhece?
Hoje,
ouvindo a música Mantra do Nando Reis, senti
como se tivesse encontrado a chave para o processo que estava em curso.
Não se trata de caminhar solitário, trata-se de caminhar sozinho, ainda que acompanhado.
Não se trata de perder tudo, trata-se de desconstruir tudo e, se assim desejar, recomeçar.
Não
se trata de fugir de relações cármicas não concluídas, muito pelo
contrário! Trata-se de vivê-las com a consciência e a profundidade
desejada pelo ser, curando, em conjunto, as dores, os sofrimentos, as
mágoas.
Não
se trata do outro, trata-se de você mesmo, da sua autopercepção, do seu
amor próprio, da compaixão que consegue dispensar a si próprio.
Não
se trata de caminhar em direção ao coração, trata-se de perceber que
você nunca saiu de lá e, então, aquietar-se, acomodar-se e permitir que
todo o processo se desenrole.
Todos os conselhos que eu dei a todos vocês, eram, na verdade, para mim.
Todos os olhares de aceitação e cumplicidade que eu ofereci a vocês, eram para mim mesma.
Todo o acolhimento que eu ofereci a vocês, era para mim mesma.
E
agora, que eu preciso profundamente de aceitação e compaixão, todos
vocês estão aqui comigo, como espelhos, refletindo para mim todos os
abraços que eu dei, todo o carinho, todas as palavras de apoio e
empoderamento.
Estou sozinha, mas não solitária, rompendo com toda a dor que em mim se fortaleceu pela negligência.
Estou
sozinha, mas não solitária, acolhendo com profunda gratidão todas as
minhas relações, pois me proporcionam o aprendizado desejado, a cura
necessária, o equilíbrio maior.
Estou sozinha, mas não solitária, aberta, vulnerável e imperfeitamente perfeita.
Devagar
a espiral volta a se mover. Mas sei que, cada vez mais profunda, ela
retornará, até que tenha atingido todas as minhas raízes,
certificando-se de que estou firme o suficiente.
E eu estarei.
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