Ainda sobre renúncia.
Ouvindo uma banda que
eu amo, Sleeping at Last, a seguinte frase saltou aos meus ouvidos:
“Show me where my
armour ends
(Mostre-me onde a
minha armadura termina)
Show me where my skin
begins”
(Mostre-me onde a
minha pele começa)
Toda a nossa
reatividade é uma armadura.
Toda a nossa
insegurança é uma armadura.
Todos os nossos
complexos são uma armadura.
Toda a nossa
agressividade é uma armadura.
Até mesmo o nosso
excesso de prestatividade pode ser uma armadura.
O que estamos querendo
proteger? O que é isso que o ego tenta, incessantemente, manter oculto? Qual é
a dor que estamos evitando a todo custo? As pessoas são confiáveis? Será que eu
suportaria, novamente, a dor da decepção?
Em vez de,
simplesmente, reconhecermos que somos vulneráveis e que desejamos ardentemente
amar e ser amados, preferimos carregar o peso da armadura.
Sofremos por medo de sofrer.
Relacionamento após
relacionamento, zero conexão. Insegurança, ansiedade, exigências,
reivindicações, garantias.
Dói.
Desgasta.
Anestesiamos.
Só queremos que o dia
passe. Que mais um dia passe.
Desejamos
profundamente que a providência divina nos enxergue e faça por nós o que não
damos mais conta de fazer.
“Show me where my
armour ends, show me where my skin begins.”
Não é nada fácil
reconhecer o que em nós é verdade e o que foi criado para servir ao personagem,
travestindo a dor em todo tipo de sentimentos e justificativas.
Eu tenho dificuldade
de colocar toda a minha energia em um relacionamento, porque a minha família,
tanto materna, quanto paterna, carrega um histórico de traições e
relacionamentos frustrados.
Posso contar essa
história para mim a vida inteira e, tranquilamente e verdadeiramente, ela serve
para justificar a dor que eu carrego. O cansaço de estar em busca de algo que
eu nunca encontro. O vazio dentro do peito. A distância entre o sentir, o
pensar, o falar e o agir.
Mas eu posso fazer uma
escolha diferente. Posso ir além de apenas reconhecer as minhas restrições e de
tomá-las como balizadoras da vida. Posso fazer essa escolha agora.
Eu posso lidar com a
culpa por não reverberar a dor dos meus antepassados.
Eu posso lidar com a
culpa por ter um relacionamento mais saudável que os que me precederam.
Eu posso lidar com o
medo de não pertencer ao grupo familiar, por não me solidarizar com as suas dores.
Eu posso ressignificar
tudo isso e tomar força para subir esse degrau que foi pavimentado por tantas
histórias.
Eu posso.
Mais que isso.
Tenho força para
caminhar pelos anos que vivi, e recuperar a dignidade que foi quebrada em mil
pedaços a cada experiência da qual não me orgulhei.
Tenho força para me
recompor, para reconhecer a minha verdade e para confiar na minha capacidade de
sustentar uma nova vida, baseada em novas escolhas, almejando novos fins – que
não antevistos ou desejados pelos meus familiares.
Tenho força para
colocar os meus dois pés em um relacionamento, arriscando tudo na aventura de
viver uma vida completamente exposta, abrindo o coração e aprendendo a ser
plena contribuição na vida do outro.
Tenho plena capacidade
de aprender pelo amor e de elevar a minha consciência sem a necessidade de
enfrentar experiências dolorosas.
Não mais.
Eu tomo nas mãos as
rédeas da minha vida.
Não mais confundirei
gratidão, com a obrigação de repetir padrões de sofrimento. Não mais me
sacrificarei em nome da harmonia. Não mais tirarei do outro a sua própria
responsabilidade. Não mais ultrapassarei os meus limites para ser útil. Não
mais me colocarei em segundo plano para ter o meu valor reconhecido.
Eu renuncio às minhas
próprias justificativas.
Finalizo com um trecho
de Eckhart Tolle:
“A iluminação
conscientemente escolhida significa renunciar ao seu apego ao passado e ao
futuro e fazer do Agora o principal foco da sua vida. Significa decidir morar
num estado de presença em vez de no tempo. Significa dizer sim ao que é. Então
deixará de precisar da dor. De quanto tempo pensa que precisará para poder
dizer: “Não criarei mais nenhuma dor, mais nenhum sofrimento”? De quanto mais
dor precisará para poder tomar essa decisão? Se pensa que precisa de mais
tempo, terá mais tempo – e mais dor. O tempo e a dor são inseparáveis.”
Maravilhosa, como sempre. Coloquemos em prática. Já.
ResponderExcluirPraticando todos os dias :)
Excluirme identifiquei totalmente... espero continuar firme no trabalho de desligar essas chaves !
ResponderExcluirgratidão pela oportunidade de leitura desse texto maravilhoso <3