Esses dias, em uma
palestra, ouvi pela décima vez a metáfora dos pedreiros. Vou conta-la para
vocês:
Uma vez um viajante,
percorrendo uma estrada, deparou-se com uma obra em início de construção. Três
pedreiros, com suas ferramentas, trabalhavam na fundação do que parecia ser um
importante projeto. O viajante aproximou-se curioso.
Perguntou ao primeiro
deles o que estava fazendo. Estou quebrando pedras, não vê? Respondeu o
pedreiro. Expressava no semblante um misto de dor e sofrimento. Eu estou
morrendo de trabalhar, isto aqui é um meio de morte, as minhas costas doem,
minhas mãos estão esfoladas eu não suporto mais este trabalho, concluiu.
Mal satisfeito, o
viajante dirigiu-se ao segundo pedreiro e repetiu a pergunta.
Estou ganhando a vida,
respondeu. Não posso reclamar, pois foi o emprego que consegui. Estou conformado
porque levo o pão de cada dia para minha família.
O viajante queria
saber o que seria aquela construção. Perguntou então ao terceiro pedreiro: O
que está você fazendo?
Este respondeu: Estou
construindo uma Catedral!
Todos estavam fazendo
a mesma coisa, apenas tinham em mente propósitos diferentes.
Para melhor ilustrar,
o palestrante seguiu citando uma pesquisa feita em uma universidade americana.
Nessa pesquisa, pessoas foram selecionadas para fazer ligações, a fim de
convencer pessoas a fazerem doações em dinheiro para financiamento estudantil.
O primeiro grupo se
reuniu e, imediatamente iniciou as ligações.
O segundo grupo se
reuniu, mas, antes de iniciar as ligações, ouviu histórias de como esse
trabalho seria engrandecedor para elas mesmas, pois ajudaria a desenvolver a
sua oratória e a sua capacidade de convencimento.
O terceiro grupo, por
sua vez, antes de iniciar as ligações, ouviu histórias de pessoas cujas vidas
foram transformadas pelo financiamento estudantil, que deixaram a miséria e
desenvolveram plenamente as suas habilidades.
Novamente, os três
grupos faziam a mesma coisa: pediam doações.
O primeiro apenas
fazia ligações. O segundo, além de fazer ligações, estava focado no que se
reverteria em seu próprio benefício. Mas o propósito do terceiro transcendia a
isso tudo, transcendia o próprio ser.
O resultado foi que o
primeiro e o segundo grupo arrecadaram praticamente a mesma quantia. Já o
terceiro grupo arrecadou o dobro em doações.
Sabe, diz-se que o
propósito das sementes estelares é muito maior que elas mesmas. Eu arrisco
dizer que o propósito de todo ser humano transcende a ele mesmo.
Cada movimento de
observação e cura reverbera no infinito.
Podemos, todos, olhar
para a nossa dor e sentir pena de nós mesmos. Podemos, por outro lado, olhar
para a nossa dor e enxergar uma chance de sermos livres dessas algemas. Mas
também podemos olhar para ela e identificar uma oportunidade imperdível para
libertar todo um grupo familiar, quiçá reescrever a grade planetária, levando
um pouquinho de amor e consciência para todos os que atravessam a mesma
situação, içando-os um degrau acima.
Talvez por isso quem
tem mais consciência, tem mais responsabilidades: tudo o que trazemos à
consciência é potencializado.
Não podemos perder
nenhuma oportunidade de servir, seja ela na dor ou no amor.
Lembrei-me que, certa
vez, em uma conversa com uma amiga querida, em suposta defesa dos que ainda não
despertaram, eu falei: precisamos entender que não é fácil despertar, existem
tantos emaranhamentos, tantas dores passadas de geração em geração, escravidão
financeira, uma mídia que nos aliena.
Ela, então, me olhou
bem séria e disse: você não despertou? Qual o tamanho da sua arrogância para
duvidar da capacidade de transformação dos demais? Não sinta pena, nem
justifique. Apenas mantenha a lucidez e esteja presente para quem procurar pela
sua ajuda.
Assim segui, esperando
o melhor de todos os que cruzaram o meu caminho e aprendendo a honrar as
escolhas individuais, por mais incompreensíveis que fossem.
Com Mãe Maria aprendi
que agressor e agredido se encontram no meio do caminho e que o limite da dor
foi programado por nós mesmos. Assim, aprendi a confiar no processo de cada ser
que passou pela minha vida.
Começamos com o foco no
sofrimento.
Depois, passamos ao
reconhecimento do amor próprio, o fortalecimento do centro do ser, a busca
pelos benefícios individuais que podem ser extraídos de todos os tipos de
práticas. Amar ao próximo como a si mesmo certamente passa por aqui.
Até que tudo começa a
extravasar grandemente de nós. Chega um momento em que as células não
comportam mais tanto amor e autocuidado. Eles passam a irradiar de nós por meio de
palavras, de gestos e de intenções. Então transcendemos o humano. Ou será que é
nesse momento que nos tornamos verdadeiramente humanos?
Seja qual for a
resposta, é exatamente nesse momento em que crescemos em força e em coragem. É exatamente nesse momento que nos sentimos
capazes de produzir algo maior que nós mesmos... algo que, sem saber, já
vínhamos produzindo.
Desde o princípio
estávamos todos construindo catedrais.
A diferença é que
agora sabemos disso.
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