Relacionamentos e
hortas têm tudo a ver.
Quando você escolhe as
plantas que deseja ter em uma horta, precisa dedicar um pouco do seu tempo e da
sua atenção para conhecê-las melhor.
Deve pesquisar em que
tipo de terra elas se desenvolvem melhor, se gostam de sol, quantas vezes por
semana precisam ser regadas, com quais outras plantas se relacionam bem, a que
tipo de pragas estão sujeitas e de que forma pode ajudar a superá-las, se os frutos
devem ser colhidos ainda verdes (para que finalizem o processo de
amadurecimento com a sua ajuda) e assim por diante.
Não existe a mínima
possibilidade de agir contra a natureza delas. Faltou água, elas morrem.
Excesso de sol, elas morrem. Colhe o fruto antes da hora, ele perece.
Assim são as pessoas.
Ainda que consigam se adaptar, ainda que se permitam ceder em alguns pontos,
passou do limite, perdem o viço, perdem a graça, tornam-se desinteressantes.
Em um relacionamento
você precisa colocar a sua atenção verdadeira no outro e compreendê-lo,
aceitá-lo, acolhê-lo. Jamais possuí-lo, controlá-lo, inferiorizá-lo.
Precisa saber o que
move o seu parceiro e ajudá-lo a manter essa chama acesa, intocada.
Precisa saber o que
mexe com ele, quais os argumentos poderia usar para fazê-lo agir exatamente
como você quer, apenas para jamais usá-los (porque você não deseja receber dele
nada que não flua naturalmente da sua essência).
Precisa saber como ele
gosta do café, o que ele gosta de passar no pão, o tipo de lençol que lhe
agrada a pele, os lugares que ele gostaria de conhecer, como ele gostaria de
envelhecer.
Precisa respeitar o
tempo dele, sem exigir que ele ofereça sementes ou frutos antes do tempo.
Precisa acolher o
outro com as suas fraquezas, os seus traumas (todas as pragas às quais está
suscetível), colocando-se na posição de auxiliador, se assim for demandado.
Esse nível de
compatibilidade é muito valioso, muito verdadeiro. Quando há verdade nada é
forçado ou manipulado: há duas naturezas que convivem (por opção) e se
manifestam harmoniosamente.
E de repente você
enxerga que não há, ali, apenas dois corpos que se encaixam com a maior
naturalidade do mundo. Há, ali, um encontro marcado entre seres que se
comprometeram a se ajudar, a crescer, a amadurecer.
Só é possível crescer
em verdade quando não simulamos para agradar o outro, abandonando aspectos
caríssimos de nós, fragmentando a nossa essência.
Só é possível crescer
quando a terra é adequada, quando o sol e a água nos são dados na medida certa,
quando a temperatura (quase sempre) é propícia.
Só é possível crescer
quando se aceita a transitoriedade das coisas e das pessoas, sendo grato por
cada momento em que é possível a convivência, sabendo que amanhã tudo pode ser
diferente - não existe segurança ou garantia de nada.
Não existe gaiola que
prenda um coração.
Talita Rebello
02.05.2016
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