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sexta-feira, 9 de março de 2018

Desfazendo as malas




Eu estava assistindo a alguns TED’s e me deparei com um de Justin Baldoni, desafiando os homens a usarem as mesmas qualidades que usam para serem “homens o suficiente”, para olharem para si mesmos.

Ele estava estimulando os homens a acessarem o campo do coração, a se expressarem. Em certo ponto, ele fala:

- “Você é confiante o suficiente para ouvir as mulheres em sua vida, para ouvir as suas ideias e soluções, para abraçar/aguentar as suas angústias e realmente acreditar nelas, mesmo que o que elas digam seja contra você?"

De fato, a grande maioria dos homens tem dificuldade de expor as suas vulnerabilidades e angústias – e acessar esse campo na sua parceira depende, necessariamente, de uma passadinha pelas suas próprias angústias.

Mas eu penso que essa pergunta serve a ambos os universos. Somos, nós, confiantes o suficiente para ouvir o outro? Para parar, respirar, sair do estado de defesa e olhar na mesma direção que ele olha?

Nenhum de nós entra puro em um relacionamento. Todos levamos para dentro de casa uma complexidade imensa (que nós mesmos não conhecemos, nem compreendemos) e, infelizmente, não desejamos enxergar.

Passamos a projetar no outro as nossas angústias e os nossos medos. Criticamos o comportamento, a criação, os hábitos.

Precisamos aprender a desfazer as nossas malas juntos, em vez de cada um passar a vida arrastando a sua própria bagagem.

Para isso, é indispensável aprendermos a ouvir o outro, mesmo que o que ele diz nos pareça bobo, dramático ou sem sentido.

Certa vez, no início do meu relacionamento com o meu marido, eu havia me chateado com alguma coisa e murchei. Eu tinha o hábito de me calar, porque eu nunca fui ouvida, porque eu estava sempre errada, era louca ou via chifre em cabeça de cavalo (no caso a minha). Pois ele me colocou no colo e disse: “você não sai daqui enquanto não falar o que foi que te incomodou tanto assim. Vamos resolver isso juntos.”

Eu simplesmente ouvia: Se é o que você está sentindo, é importante para mim.

Quantos e quantos relacionamentos terminam porque nós julgamos as reclamações do outro conforme o nosso próprio ponto de vista? “É bobagem”, “ela só reclama”, “não estou fazendo nada demais”, “isso é coisa de homem”...

O outro nos diz quem ele é o tempo inteiro, mas nós não estamos disponíveis para vê-lo de fato. Não ouvimos os seus pedidos de ajuda, não ouvimos as suas insatisfações, não compartilhamos os seus sonhos.

Queremos, por outro lado, receber tudo isso que não damos. Queremos ser vistos, compreendidos, amados incondicionalmente, suportados em nossas aflições. Queremos uma pessoa pronta para satisfazer a nossa visão romântica de relacionamento.

Projetamos no outro estereótipos de perfeição e exigimos que se comporte conforme as nossas expectativas, forçando-o a sacrificar a sua essência, os seus hábitos e as suas amizades como prova de amor. “De repente”, temos ao nosso lado uma pessoa despedaçada, desinteressante e sem vida.

A realidade é que atraímos para a nossa vida a pessoa certa. Sempre.

Vibração. Magnetismo. Plano de alma.

Apenas transformando a nós mesmos é que passaremos a um estado em que atrairemos outro tipo de relacionamento – o que pode acontecer com a mesma pessoa que já está ao nosso lado.

Torne-se um observador de si mesmo. Aprenda a reconhecer os padrões familiares. Identifique os seus gatilhos, as suas crenças e as suas dificuldades de relacionamento. Isso certamente reverberará no seu parceiro.

Para ouvir o outro, é preciso que aprenda a ouvir a si mesmo.

Para ver o outro, é necessário que aprenda a ver a si mesmo.

Para sentir o outro, é necessário saber o que é seu e o que não é seu.

Seja, você, um agente de transformação do seu próprio universo.

Empatia começa por dentro.

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