Quando damos de cara com as nossas feridas e não é mais possível escondê-las, surge um pavor e uma dor tão lancinante, que nos faz pensar em fugir - como se mudando o entorno, fosse possível voltar ao estado de anestesia.
Penso que, se assim quisermos, podemos passar toda uma existência anestesiados, procurando um culpado aqui, outro acolá; trocando de relacionamentos, mudando de trabalho, alimentando vícios. Somos bastante criativos.
Ano passado eu cheguei nesse lugar. Eu podia olhar o meu algoz nos olhos - e não era mais possível fugir de mim. Eu estava parada à beira de um precipício e era chegada a hora de um passo de fé: ser eu mesma.
Foram-se dias e dias de retrospectivas e, em todas elas, a minha permissividade e a minha vontade de agradar eram tão gritantes, que eu me envergonhei.
Começar de novo era necessário e inadiável. Mas como fazê-lo em um ambiente em que todos estavam tão acostumados à Talita boazinha e prestativa, que constantemente abria mão das próprias vontades para manter a harmonia e, lógico, para ser amada e para ser indispensável.
Eu quis me sentir livre de tudo isso. Eu quis me libertar do meio. Eu quis me libertar dos relacionamentos, das expectativas e das obrigações. Eu quis poder perseguir a mim mesma sem ter que dar satisfações ou explicações a ninguém. Eu quis encontrar um espaço vazio onde, exposta, só eu me visse e, então, pudesse vir a conhecer e a acolher a mim mesma - onde ninguém mais testemunhasse os monstrinhos que viviam dentro de mim.
O meu casamento balançou e quase ruiu. Mas "ele" queria tanto ficar. "Ele" queria me ajudar a parir o meu próprio caos e a dar a luz a esse novo ser que reclamava passagem.
O meu casamento balançou e quase ruiu. Mas "ele" queria tanto ficar. "Ele" queria me ajudar a parir o meu próprio caos e a dar a luz a esse novo ser que reclamava passagem.
Então, um dia, em sonho, eu dizia a mim mesma: "essa experiência não está pronta para ser encerrada; essa experiência não pode terminar".
Eu entendi que essa cura deveria ser realizada no seio dos meus relacionamentos e de forma exposta. Agir em fuga não era uma opção.
Neste dia eu decidi colocar toda a minha energia no autoconhecimento e na auto-observação em tempo integral.
Todos os dias que se seguiram foram verdadeiras bênçãos. A cada dia eu me expresso com mais segurança, expondo as minhas vontades e ideias, e, assim, vou recompondo com verdades os abismos que eu criei nos meus relacionamentos.
Aquela Talita tentou retomar o comando de todas as maneiras, por meio de todas as brechas - oportunidades em que, atenta, eu identificava (uma a uma) as crenças que me mantinham refém do meu antigo comportamento.
Ela ainda cochicha no meu ouvido, mas eu já reconheço a sua voz rouca e birrenta: a minha velha conhecida, aquela a quem amo, aquela a quem sou grata, aquela a quem honro; mas que não mais me domina.
Dar passagem à minha autenticidade foi um serviço prestado a mim e a todos à minha volta, pois, identificando os mecanismos pelos quais exerciam controle sobre mim, todos precisaram repensar e adaptar os acessos à minha vida. O meu movimento movimentou a todos.
Estamos aprendendo a respeitar o tempo das pessoas e dos relacionamentos.
Estamos reconhecendo o valor dos encontros que decorrem de confluências.
Estamos, de fato, percebendo que, do controle, não surgem verdades e não se manifestam essências.
Estamos vendo que atraímos o que somos (lá no fundo!).
Estamos aprendendo a viver, vivendo. Entregando-nos ao fluxo da existência.
Em profunda gratidão continuo o caminho, ao lado de quem tem acolhido esse ser que, nesse corpo (e com grandeza) se manifesta.
A dor que eu escondia, escondia um lindo caminho.
Sensacional, sempre e cada vez mais feliz em poder compartilhar o crescimento ao teu lado! Te amo muito
ResponderExcluirComo não amar??
ResponderExcluirCresço com cada texto teu, Talitinha amada!
Gratidão!
Me vi no texto, só que o meu momento foi definitivo em 2016. Como é gratificante ser você, sem as amarras, sem sentir que "deve" isto ou aquilo e então algumas pessoas percebem este Ser que saiu do casulo e gostam, adaptam-se ou se afastam e você diz: está tudo bem!!! Gratidão Talita por compartilhar sua verdade!!!
ResponderExcluirAmei, ressoou muito comigo, tb descobri uma pessoa linda que sempre esteve aqui, bastou eu mudar o olhar.A gradecida
ResponderExcluirCaramba Talita, eu comecei a ler seus textos e não parei mais! Obrigada por compartilhar!!!! ❤
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