As pessoas estão acostumadas a nos colocar dentro de caixinhas. É como se precisássemos ter um rótulo específico para que possam nos reconhecer ou julgar.
Assim, também, tentam evitar que mudemos. Exercem uma força que tenta nos manter sempre conectados ao que esperam de nós.
Querem que eu me declare vegetariana, adepta de uma religião, naturalista, ativista, feminista.
Querem que eu declare o meu conceito de Deus (existe algo mais dinâmico que isso?).
Querem que eu pare no tempo.
Querem limitar meu espaço.
Por vezes, penso que não se importam com a resposta: querem apenas munição, querem iniciar uma discussão ou querem, depois, poder cobrar a conta pelo cabelo quimicamente alisado ou pelo pedaço de frango grelhado no meu prato.
"Logo você"?
Confesso: existem (muitas) pessoas que eu evito, porque eu não sou mais a pessoa que esperam que eu seja. Na verdade, em alguns casos, eu nunca fui a pessoa que gravaram em suas memórias (para o bem ou para o mal). Para elas, eu sou uma lembrança desenhada pelo seu próprio filtro pessoal.
Entendo isso como quebra de ressonância. Simples assim.
Mas, hoje, grito: eu não tenho compromisso com o que fui, com o que pensei, com erros que cometi, com as roupas que usei. Estou em constante desconstrução.
Não estou melhor. Não estou pior. Estou caminhando.
Eu amo estar na minha própria pele e ter forças para caminhar para fora de todas as caixas nas quais tentam me conter - e, também, para ficar, quando e enquanto eu quiser.
Sei, exatamente, as pessoas com as quais eu falhei e atesto: viver a minha vida, atravessar os meus desertos, desfrutar a minha diversidade e acolher a minha criança não são consideradas falhas.
São universos que cabem, apenas, a mim. Não quero dividi-los. Não tenho obrigação de prestar contas. Os meus erros e acertos fazem parte do meu próprio arquivo - e apenas eu escolho se e quando compartilhar algumas páginas. A minha liberdade é interior e inalienável.
Não arquivo mágoas. Não arquivo raiva. Não arquivo desapontamentos.
Ainda arquivo culpa. Por todas as vezes que eu não tive forças para tomar atitude. Por todas as vezes em que me submeti em busca de carinho e aceitação. Por todas as vezes em que me maltratei. Por tudo o que eu construí movimentada pela dor. Por todas as vezes em que gravei a minha alma com informações negativas - e, hoje, entendo desnecessárias.
É disso que eu preciso me curar.
Assim e por isso, eu me despeço de todos os que já me conheceram.
Abro-me para todos os que desejem me conhecer ou re-conhecer.
Tratem-me como uma estranha.
Olhem-me com curiosidade.
Permitam-me transitar.
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