Tempos difíceis nos
permitem explorar as nossas fraquezas.
Quando não há
distrações, quando não há para onde fugir, encarar as verdades por trás das
aparências é obrigatório.
Podemos passar a vida
observando as nossas águas rasas, falando sobre a linda paisagem espelhada em sua
superfície, sobre os visitantes que nela se divertem no verão. Podemos falar
sobre os invernos solitários, sobre as noites de tempestade, sobre o vento que
sopra do norte, cobre a superfície de entulhos e turva a nossa visão.
Mas, um dia, inevitavelmente,
teremos que mergulhar. Lá no fundo, onde não vemos reflexos externos, onde o
vento, o inverno e verão não chegam, onde a única paisagem existente é a força que
sustenta o nosso caminhar.
São águas escuras.
Descemos tateando os
pilares que sustentam cada uma das nossas crenças e, veremos, não chegam ao
fundo. Estão à deriva, enredados, apenas, nos nossos pensamentos.
O que guia o nosso
caminho até o fundo são pilares mais simples e mais robustos, que jamais havíamos
visto da superfície. Estavam eclipsados pela paisagem, pela euforia dos verões,
pela solidão do inverno.
Sua estrutura imponente
parte da nossa essência e, raramente, atravessa a superfície.
O que sabemos de nós
mesmos, se nos confundimos com a paisagem, com os reflexos, com as mudanças
exteriores?
O que compreendemos da
vida, se construímos a nossa história sobre pilares desconectados da nossa
verdade interior, que se movem e nos movem conforme o desígnio de forças
exteriores?
O que é transitório, o
que é eterno?
O que podemos extrair
dessa experiência e fará parte de nós pela eternidade?
O que é capaz de nos
libertar e o que apenas vai nos aprisionar?
Confesso, na
turbulência da superfície, muitas vezes eu me sinto prisioneira. Prisioneira do
passado, prisioneira do futuro.
Apenas a profundidade
me liberta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário