Um dia, no meio de
uma vivência, perguntaram para mim: como pode, uma mulher que inspira tantas
outras (mais velhas e mais novas), estar fragmentada desse jeito?
Naquele momento eu
não tinha a menor condição de compreender o que essa pergunta queria dizer.
Aos poucos ela foi
fazendo sentido: algumas das minhas “qualidades” eram muito nocivas.
Dócil, flexível,
adaptável, pacífica.
Com a ideia
primordial de que a harmonia deveria ser mantida a qualquer custo, eu me
calava, eu não me insurgia, eu me adaptava.
As qualidades – por
todos tão valorizadas – eram parte da construção de um personagem que eu mesma
desconhecia, pois com ele eu me identificava intimamente.
Afinal, quem não
amaria essa menina engraçada, bem humorada, dócil, cordata, inteligente? Era um
lugar bastante seguro.
Comecei a prestar
atenção nos meus diálogos internos. Cada vez que eu me calava diante de uma
situação, eu resmungava comigo mesma. Cada vez que eu cedia aos planos dos
outros (deixando os meus para amanhã), eu me criticava. Cada vez que eu
expressava maturidade (morrendo de vontade de cair em posição fetal e chorar),
eu me flagelava por dentro.
A ideia de que assim
eu agia para manter a harmonia era falsa. Eu agia assim por medo.
Medo de não ser amada
como eu era.
Medo de não ser
suficiente apenas por ser.
Medo de não ser
necessária.
Medo de não ser
querida.
Afinal, eu precisava
fazer por merecer.
A tão falada crença
do merecimento fez com que eu criasse um abismo entre mim e os meus
relacionamentos.
Fez com que eu
terceirizasse responsabilidades que eram apenas minhas, culpando as pessoas por
tudo o que eu deixei de fazer “em busca da harmonia”, mas, no fundo, era o mais
profundo medo de deixar de ser amada por ir na contramão das expectativas dos
outros.
E, então, eu percebi
que eu sentia raiva. Eu com raiva? Meu Deus, não era possível, isso era
inaceitável.
Custou para que eu
acolhesse esse sentimento. Custou para que eu admitisse que eu era a única
responsável por tudo o que eu deixei de viver, por todos os sapos que eu
engoli, por todas as vontades que eu passei, por todas as festas que eu não
fui, por todas as viagens que eu não fiz, por abrir mão de amizades.
Toda aquela raiva,
então, era de mim mesma.
Não havia mais ninguém
para culpar.
Finalmente caí de
joelhos e me entreguei à dor de ter falhado comigo mesma, enquanto acertava com
todas as outras pessoas.
Eu me entregue à dor
de ter sido permissiva.
Eu me entreguei à dor
da mais profunda carência.
Eu me entreguei à dor
do medo infantil de não ser merecedora.
Eu me entreguei à dor
de não mais saber quem eu era – sim, eu estava violentamente fragmentada!
Violentamente! Havia tantos pedaços de mim a serem acolhidos, resgatados,
ressignificados.
Chorei em posição
fetal, como tantas vezes o meu corpo pediu. Curvei-me diante de todos os seres
que, nessa vida, colaboraram para que eu aprendesse sobre autoestima, sobre
posicionamento, sobre empoderamento, sobre autorresponsabilidade.
Abri o meu coração e
vomitei todas as minhas dores. Alto, para todo mundo ouvir. Gritei com todas as
forças que a Talita, agora, não mais se calaria.
Mas, afinal, quem é
Talita? Eu não sei. E não saber é muito libertador.
O meu único
compromisso é deixar florescer os sonhos que o Criador plantou em mim.
Novamente,
florescendo no meu altar.
Eu ainda não sei quem verdadeiramente sou, tbém!
ResponderExcluirMas tamos no caminho.....E chegando lá breve, breve!
Smack no coração!
Lilalinda! <3
ExcluirSomos, todos, atores de um papel divino, interpretando uma peça divina, cujo roteiro é escrito por cada ator, que pode transformar a sua peça num teatro de comédia ou de melodrama!
ResponderExcluir1.000 x comédia!
ExcluirAhhhh como a coragem é linda em você Tali, chorei e sorri, me ví há tempos atrás e me enxerguei em tempos recentes nessa aceitação. As experiências se fazem as mesmas com contornos próprios em cada um de nós, mas as mesmas, que lindo assim, somos tão, tão irmãos nessa viagem loucamente linda, basta aprendermos a nos ver mutuamente . Amo muito você, quem já foi, quem é e quem será. Saudades ♥
ResponderExcluirExiste uma ligação entre todos nós. Fato.
ExcluirMas que entre nós duas tem uma porreta de forte, você tem que concordar! hahahahahaha
Te amo.
Saudades!
Perfeito, libertador, amor próprio e despertar....
ResponderExcluirA nós, a vida, ao caminho...
Te amo
Te amo, gato!
ExcluirPerfeito, libertador, amor próprio e despertar....
ResponderExcluirA nós, a vida, ao caminho...
Te amo
Eu não sei quem é a Amanda. Mas me sinto presa na dúvida em vez de me sentir livre. =(
ResponderExcluirA liberdade está virando a esquina. Pode acreditar!
ExcluirEu não sei quem é a Amanda. Mas me sinto presa na dúvida em vez de me sentir livre. =(
ResponderExcluirApós muito me debater, comecei a trilhar o caminho do autoconhecimento e estou aprendendo a abrir mão do "ser aceita". Você escreve lindamente, e me arranca sorrisos e lágrimas.
ResponderExcluirEu só transformo em palavras o que todos nós sentimos, por isso essa conexão!
Excluir<3
Obrigada!