Passei uns dias na
Chapada dos Veadeiros. Melhor: durante alguns dias, eu vivi a Chapada dos
Veadeiros.
Viajei sozinha. Foi a
minha primeira vez. E foi muito desejada.
Chego a dizer que foi
a materialização de um sonho vivido a dois: por mim e por ela (que me chamava
com muita insistência).
Eu estava
completamente entregue, sem planos, sem expectativas. Poderia, apenas,
sentar-me todos os dias e apreciar a paisagem. De dia e de noite. Eu e ela.
Lá eu conheci o mais
profundo significado da palavra comunhão: TOMAR PARTE.
A natureza era
esplendorosa: doce e feroz, calma e agitada, rasa e profunda. Mas, garanto, era
ainda mais linda e plena quando éramos uma só paisagem.
Não seria tão linda
se não houvesse rochas; não seria tão linda se não houvesse água; não seria tão
linda se não houvesse vegetais; não seria tão linda se o vento não fizesse voar
as partículas de água, formando, com os raios de sol, lindos arco-íris; não
seria tão linda se não houvesse, lá, a Talita, em profunda simbiose, em fusão
com o meio, emocionada, contemplativa, aberta ao mais puro receber.
Eu fui cachoeiras e
águas calmas. Fui pedras e cristais. Fui Chapadas imensas. Fui vento. Fui
muitas estrelas – confesso, fui a própria Via-Láctea.
A minha autenticidade
e a minha entrega ao fluxo eram premiadas com conexões incríveis. Mostraram-me,
vez por todas, que o respeito à própria essência é a chave mestra do caminho
escolhido pela alma.
Não vi, senão beleza.
Não senti, senão
pertencimento.
Não encontrei, senão
irmãos.
Somos divinos. Somos
amados e amparados. Somos parte (mas, sem nós, não há o “todo”). Somos o Todo.
Precisamos parar de
fazer força. Esforçamo-nos tanto para ser alguma coisa, por que não nós mesmos?
Quanta energia
desperdiçada na manutenção de papéis sociais, personas, personagens.
Quanta energia
desperdiçada com apegos.
Quanta miséria
afetiva.
Percebem quanto alimento
oferecemos ao nosso eu sofredor, à nossa criança ferida?
Dentro de cada um existe
uma criança que só precisa saber-se integralmente amada pelo que é (não pelo
que pode vir a ser, não por quem é quando obedece, não por quem é quando atinge
expectativas, não por tirar notas excelentes, não por estar bem vestida).
Ela quer se sentir
segura, brincar até cansar e, quem sabe, dormir sem tomar banho.
Ela quer ser abraçada
e olhada com cumplicidade.
Ela quer se desenvolver
naturalmente, sem ser comparada, sem ser estandardizada, sem precisar se
encaixar em um molde.
Olhe-se no espelho e
ofereça a si mesmo aquele olhar pelo qual você vem esperando a vida toda –
ninguém vai fazer isso enquanto você não fizer.
Aceite-se, acolha-se,
ame-se. Ofereça-se integralmente a si mesmo. Dê o seu melhor ao seu bem estar,
à sua felicidade, à sua plenitude.
Aos outros? Extravase!
Derrame! Irradie!
Chegou a hora de descobrir
a imensidão de ser quem é.
* créditos da foto: Bárbara Zandomenico Perito
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