Eu
plantei mudas de berinjela ao lado da batata-doce.
Havia,
em mim, um pré-conceito sobre o tempo que as berinjelas demorariam para se
desenvolver e como elas estariam dispostas no pé.
Um
dia desses eu resolvi sentar no chão para entender onde estavam as batatas-doces e
ver se era possível colher algumas sem prejudicar o crescimento das demais, e,
quando olhei para o lado, havia berinjelas bastante crescidas nos pés.
É
uma planta de folhas largas e os frutos nascem por baixo delas, o que os deixa
imperceptíveis para olhos desatentos. Eu esperava que os frutos nascessem em
outro lugar e em outro tempo, então me distraí nas minhas próprias percepções e
expectativas.
Mas
eu não estava no controle.
Como
uma das berinjelas estava com o tamanho bem adiantado, eu me apressei e a
retirei do pé, ansiosa para mostrar a novidade para as crianças. Eu estava em
êxtase com o tempo e a generosidade da natureza.
No
fundo eu sabia que, ficando no pé, ela cresceria mais um pouco. Mas aquela
bênção foi uma surpresa tão doce, que eu não resisti.
Mas
o que eu poderia fazer com apenas uma berinjela? Precisaria de mais algumas, também de
cebolas roxas, pimentões coloridos, orégano e muito alho.
No
dia seguinte eu fui ao mercado e comprei tudo o que era necessário. Mas eu
tinha compromisso e cheguei bastante tarde em casa – o que se repetiu nos dias
que se seguiram.
Ela
pereceu.
As
bênçãos são, às vezes, tão maravilhosas e irresistíveis, que acabamos por
apressar a sua fruição. Assim aconteceu, ainda não era o tempo correto.
Que
sábia professora a natureza. Ensina sem dizer uma palavra. Oferece-se
à nossa experiência e regozija-se com o aprendizado, mostrando que, no tempo
certo, há, sim, fartura.
Precisamos,
apenas, plantar e saber esperar o momento em que a maturação e o fluxo se
encontram: quando a berinjela estiver graúda e houver planos para a sua
fruição.
Certamente
as outras berinjelas terão um final mais feliz. Assim me ensinou a berinjela
que se colocou a serviço e, perecendo, pediu que eu desacelerasse, que eu não
me apressasse em colher.
Agradeci,
então, a todas as “berinjelas” que pereceram ao longo do caminho, preparando-me
para as colheitas que viriam.
Tudo
tem o tempo certo e, quase nunca, é o nosso.
Em
profunda reverência, espero e confio.
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