Essa é a minha 35ª
primavera – não é a primeira vez que eu floresço. Aliás, acho que em poucas
épocas desses 35 anos eu deixei de florescer.
Mas confesso que
floresci poucas vezes para mim mesma – isso eu demorei aprender.
Sempre fui expert em
colecionar afetos, em fazer rir, em entreter. Por outro lado, falhei muito na
relação comigo mesma.
Por muitos solstícios
e equinócios eu busquei fora o que estava dentro. Sentia-me constantemente, no
lugar errado, na hora errada.
Procurei a completude
nos relacionamentos, procurei a felicidade nos amigos, procurei segurança no
trabalho.
Eu vivia em posição
de reivindicação, por vezes verdadeira mendicância.
Um dia, então, eu identifiquei
o mecanismo pelo qual eu garantia a continuidade dos meus relacionamentos:
permissividade excessiva, complacência.
Eu aceitava tudo, permitia
tudo, engolia tudo.
Isso tornava muito
vantajoso estar comigo, pois não havia falha que não pudesse ser relevada.
Mas e eu? Como será
que eu me sentia forjando relacionamentos?
A verdade é que não
havia relacionamentos, até eu conhecer a pessoa mais importante da minha vida:
a Talita.
Ela desejava ser
vista. Como desejava!
Ela fervilhava dentro
de mim e eu pensava: meu Deus, se eu der ouvidos a ela, a minha vida vai ao
chão.
E foi. E o chão era
delicioso com ela.
Pouco a pouco tudo
deixou de existir: todos os conceitos, todas as certezas, todas as convenções
sociais.
Então eu passei a
conhecer os relacionamentos, em um campo em que não há obrigações ou garantias.
Então eu passei a
conhecer as pessoas e o que elas apresentavam para mim a cada dia – e, garanto,
as pessoas mudam! Relacionar-se com rótulos ou pré-concepções é assistir mil
vezes o mesmo filme, ou, quem sabe, nem assistir, mas apenas ler a crítica.
Então eu passei a ser
grata pelo amor que eu recebia a cada dia, sem me preocupar se amanhã
retornaria.
Então eu aprendi a
ouvir o que as pessoas falavam, sem tentar interpretar e adequar aos meus
medos, traumas ou vontades. Sim é sim. Não é não.
Desde então, inclusive
no inverno, eu sou uma casa cheia de flores.
Ainda que você não
veja flores em mim.
Ainda que não sinta o
meu perfume.
Ainda que não conheça
o meu jardim.
Floresço.
Floresço para ela e
ela para mim.
Embelezo o meu templo
com amor próprio, com confiança, com segurança, com leveza, com paz, com
espontaneidade.
Olhe-se e encontre a sua
criança.
Ela já cansou de
brincar de esconde-esconde.
Floresço para ela e ela para mim. Para que falar mais?
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