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terça-feira, 28 de junho de 2022

Amiga de mim mesma

 



Foi com tropeços que construí uma amizade comigo mesma e aprendi a confiar em mim. 

Sou relativamente jovem, mas já vivi bastante. Sinto como se fossem muitas vidas dentro de uma só existência. 

Posso dizer: sempre existe um ser humano que acredita estar mais habilitado a dirigir a nossa vida – mas que precisa da nossa colaboração para conseguir. 

Lembro-me de um fato em especial (e, hoje, assumo total responsabilidade por ele). Desde que eu posso me recordar, eu amo o interior. As cidades menores, os dias mais lentos, a vida passando devagar. Cavalos, mato, silêncio. 

Escolhi a faculdade de agronomia. Não era o que esperavam de mim, menina articulada e argumentadora. Mesmo tendo passado na Federal, em poucos meses cedi à pressão. 

Fiz novo vestibular para direito, lugar certo para a minha expressão própria – segundo os mais habilitados. 

Qualquer um que me conhece (ainda que pouco), pode perceber que a natureza é a minha maior conexão. Que sou movida pelas cores, pelos cheiros e pelos ritmos do reino vegetal. Conto os dias por cada planta que brota, floresce ou frutifica. 

Foi a última vez que uma decisão importante da minha vida foi tomada por pressão externa. 

Fui testada outras vezes e não falhei. Nas piores circunstâncias eu fui capaz de fazer as minhas escolhas independentemente da opinião das outras pessoas. 

Como é bom poder contar comigo. 

Como é bom ser honesta comigo mesma. 

Como é bom segurar a minha própria mão. 

Com o tempo aprendi que quanto mais pedimos opinião, mais fragmentamos nosso poder pessoal, colocando parcelas dele nas mãos alheias (que, mesmo que próximas, não calçam nossos sapatos). 

Somos nosso próprio universo. Dormimos e acordamos com sozinhos com a nossa consciência.  

Ainda que finjamos não saber, somos os senhores das nossas escolhas e assumimos sozinhos as consequências delas. Ainda que nos sintamos vítimas da pressão externa, a escolha final é nossa. 

Constatei – incontáveis vezes – que os sabidos de plantão cometem seus próprios erros (não raro contrariando sua própria opinião). Além disso, nenhum deles compartilha conosco as consequências.

Também confesso que a vida, com suas voltas, graciosamente me colocou frente a frente com as situações que eu julguei ser mais capaz (que os outros) de superar. É como se cada crítica ou julgamento tivesse cravado uma estaca em meu próprio caminho. 

Colocar o foco em nossos próprios passos é um exercício – cada vez mais difícil com as redes sociais. 

Nosso trabalho é conhecer o que nos movimenta em uma ou outra direção, estar consciente dos gatilhos emocionais, observar as crenças.  

Jung dizia que até nos tornarmos conscientes, quem dirige nossas vidas é o inconsciente e chamamos isso de destino.  

Somos todos responsáveis.  


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