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sábado, 19 de setembro de 2020

Eu, babosa




Eu tenho uma babosa especial. 

Folhas largas, longas, carnudas. Um verde difícil de descrever. 

Pura potência. 

Ela ficou grande demais para o vaso em que estava e, depois de anos, decidi transferí-la a um vaso maior e deixá-la ao sol (ouvi dizer que as babosas adoram). 

Suas raízes estavam crescendo em círculos, emaranhando-se em torno dos limites do vaso. 

Coloquei-a em um vaso maior, no qual pudesse esticar suas raízes. Deixei-a do lado de fora da casa, para que pudesse sentir o sol, a chuva, os ventos. Para que pudesse conhecer os pássaros e as borboletas. 

O resultado não foi o esperado. 

Ela não reagiu com vivacidade. 

Seu verde tornou-de lilás e suas folhas, sempre tão firmes, murcharam ao sol. Vi-me ali. 

Quantas vezes a vida, por amor à evolução, moveu meu chão e eu pensei: jamais voltarei a ser a mesma (de fato, nunca mais fui).

Em vez de sentir o prazer da liberdade e a curiosidade pelo novo, senti-me sozinha e insegura. 

O amor que me sustentou, sustenta, agora, a babosa. 

A babosa de um lilás indescritível.

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