Tem um mamoeiro no quintal.
Eu o vi brotar, crescer e
frutificar.
Certo dia, uma geada forte
queimou todas as suas folhas. Com a minha brilhante mente racional, pensei: não
poderá mais fazer fotossíntese, por certo que esse foi o seu fim.
Mas a natureza que
fervilhava dentro dele, fez romper a sua pele em oito pontos. Oito brotos em
locais pouco prováveis, que se tornaram oito novos galhos, distribuídos em todo
o comprimento do caule. Produz oito vezes mais mamões e, agora, na altura das
mãos.
Quem diria, uma aparente
morte dando surgimento à uma efervescência de vida.
Lembrei-me, hoje, da
quase morte do mamoeiro, quando senti desaparecer parte da minha consciência
depois de um esforço físico leve.
Sentei-me ao lado do
mamoeiro para tentar absorver a inteligência da renovação, para sentir a
energia da vida fluindo sem medo e sem economia.
Antes mesmo de
colocar os olhos na árvore, percebi que o jardim havia me preparado uma nova
lição.
Uma borboleta
segurando-se firmemente ao casulo do qual havia saído.
Talvez ela não
soubesse que depois de abrir as suas asas, não seria mais possível voltar para
o espaço pequeno dentro do qual se sentia segura, mas permanecia confinada. Depois
do caos, da metamorfose e da expansão, nada mais seria como antes – o que é assustador.
O mundo, como ela
conhecia, acabou.
Ela se movimentará outra
forma, ela enxergará a vida de outros ângulos, ela sentirá outras necessidades,
ela irá se relacionar com outros grupos.
Não poderia ter
recebido um presente maior que esse.
Enquanto nos
debatemos contra as paredes dos nossos casulos e nos descobrimos grandes demais
para espaços tão pequenos, lá fora a vida continua a jorrar com uma potência
inimaginável, preparando-nos novas experiências.
Tal qual o mamoeiro
e a borboleta, não sabemos que nascemos exatamente para isso e que viemos mais que
preparados. Nossos corpos carregam uma inteligência pouco compreendida pelas
nossas mentes: possuem códigos que são ativados em momentos chave.
Seguimos
impulsionados pela força da vida, que nos impele ao movimento, ao crescimento e,
por que não, às dúvidas.
A cada pequena
morte, uma metamorfose, um degrau.
Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante ao invés de ter opiniões prontas e acabadas sobre muitas coisa...
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