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segunda-feira, 18 de junho de 2018

Quando as árvores somos nós




As plantas são uma das minhas grandes paixões.

Eu sempre fui adepta da menor interferência, sempre gostei da espontaneidade (nas pessoas e na natureza). Gosto de observar o que nasce “sozinho”, as plantas que brotam na composteira e as surgem pelos cantinhos.

Estou certa de que isso tem relação com o respeito que eu tenho à minha essência e com o compromisso de abrir mão do controle (tentar controlar ou deixar ser controlada).

Dizem os índios: as ervas que nascem no seu quintal, são a sua cura.

Vejam como é lindo: a conexão que criamos com o pedaço de terra que nos abriga, é capaz de despertar o banco genético conforme a nossa necessidade.

O propósito do Reino Vegetal é servir. Curar o nosso corpo físico, aliviar o nosso corpo mental, elevar a vibração do nosso campo espiritual. As plantas ativam todos os nossos sentidos, toda a nossa sensibilidade: é só conversar com o alecrim que ele nos perfuma.

Aí sábado conheci o Mago Jardineiro. Ademar Brasileiro.

Com uma tesoura de poda na mão, um sorriso imenso no rosto e um relacionamento de trinta anos com as plantas, ele me deu uma lição de vida profunda, usando uma pequena Pitangueira.

A cada galho que ele cortava, um arrepio. Por que interferir no crescimento da planta?

Então ele disse: “a planta pode crescer para qualquer lado, mas alguns galhos, como os que vão para cima, raramente darão frutos, apenas utilizarão a energia vital da planta para crescer. Então, podemos podar esses galhos (com o menor corte possível) e deixar os que crescem na horizontal, pois é lá que a seiva se demora mais e, por isso, florescem e frutificam mais. Mais energia direcionada para os galhos certos, mais flores e mais frutos.”

Naquele instante eu, que já havia reconhecido a grandeza daquele ser que se veste de jardineiro, me curvei de corpo todo.

Lembrei das providências divinas em nossas vidas. Lembrei dos caminhos interrompidos, dos relacionamentos desfeitos, das intercorrências da vida. Caminhos que – sabia Deus – não renderiam frutos e foram precocemente ceifados. Choramos as nossas feridas enquanto redirecionamos a nossa energia para o caminho mais fluido, no qual, em pouco tempo, floresceremos lindamente.

Então dizemos: “Oh, Deus escreve certo por linhas tortas!

Não, diria o Mago.

Ele apenas vê a Pitangueira de fora, ralinha e pesada e, atendendo a um apelo silencioso, observa com atenção. Então, causando a menor ferida possível, interrompe  os caminhos estéreis.

Passei a tarde de domingo sentada ao lado do alecrim, tentando entender quais os caminhos que estavam desgastando a sua energia, observando a sua relação com as plantas companheiras. Então, pela primeira vez, eu extraí alguns galhos com amor – em vez de fazê-lo com dor –; desejosa de que ele estivesse entendendo os motivos pelos quais eu o fazia, de que as feridas curassem rapidamente e ele pudesse utilizar melhor a sua energia.

Talvez seja assim que Deus se sente, quando as árvores somos nós.

Em profunda gratidão.




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