O meu processo de
despertar não foi chocante, nem repentino.
Na verdade, eu não
consigo me lembrar de, um dia, ter estado completamente adormecida.
Eu sempre fui diferente
– irreverente, era o que a minha mãe costumava dizer para justificar o meu
desapego às regras de conduta, aos costumes, aos limites impostos às mulheres.
Apesar da minha
postura moderninha, como todos os nascidos em berço Católico, participei de
forma bastante ativa da Igreja durante a minha infância e início da adolescência:
fiz catequese, fiz crisma, era parte de um grupo lindo chamado A Legião de
Maria.
Conta a minha mãe
que, lá pelos 10 anos, ao deixar o confessionário no dia da minha primeira
confissão, o Pároco, que me aguardava do lado de fora, ouviu-me dizer: “mas que
cagada!”. Ele contou isso na missa de domingo.
Eu comecei a sentir,
de fato, o peso da culpa católica quando eu comecei a namorar.
A ideia era fazer com
que eu me sentisse observada a todo momento. Vigiava-me um Deus que considerava
o sexo um instrumento muito mal utilizado pela humanidade – pois servia,
apenas, para procriação e o seu uso por prazer era pecado. Ele, então, saberia
que eu estava a repetir o pecado original, que manchara toda a humanidade.
Não era diferente do
que eu aprendi em casa.
Mas como eu nunca me
contentei com respostas prontas, eu decidi pagar o preço do pecado e deixar o
meu corpo conhecer o amor.
Seria, de fato, errado
e sujo comungar o corpo com alguém?
Seria pecado sentir
esse desejo de fundir duas existências, ainda que por um breve momento?
Foi assim que eu
descobri que o meu corpo era inocente. Reconhecê-lo assim foi o meu primeiro
milagre.
Eu não apenas não
aceitava a culpa católica, como ela me causou uma grande revolta. Passei a
questionar as escrituras e a postura de todos os propagadores das ideias que,
sabia eu, não eram verdadeiras.
Era, para mim,
inaceitável a ideia de passar a vida na berlinda e morrer com medo de ir para o
inferno.
Bastava olhar em
volta para me reconhecer na natureza de todas as coisas, na fartura e na
abundância da natureza, na beleza e no milagre da procriação.
Mas, internamente, o
medo de estar falhando com Deus me consumia. Estaria eu errada? Estaria Deus,
de fato, descrito e esgotado em um livro? Estaria, eu, de fato, gravada com o
pecado original e haveria de passar a vida tentando me redimir?
Afastei-me por
completo da instituição.
Tirei Yeshua da cruz
e o levei comigo (confesso, para mim, Ele sempre sorriu!).
Tudo foi se ampliando
aos poucos, sem sustos, sem grandes revoluções.
Perguntam-me, hoje,
em que eu acredito. A minha resposta é: em tudo, até em você!
Quando eu encontrei o
espaço em que Deus habita em mim, encontro-O em qualquer casa, em qualquer
templo, em qualquer livro, em qualquer pessoa.
Não existe nada, nem ninguém, dissociado da fonte.
Pude, então, voltar
os olhos para a minha raiz Católica e, sem revolta alguma, desconsiderar os
emissores e ressignificar as mensagens conforme o meu próprio sentimento.
Voltei,
instintivamente, a fazer o sinal Católico (que não chamo de sinal da cruz),
mentalizando: une-se, em mim, o céu e a terra, o passado e o futuro.
Kryon, em uma de suas
maravilhosas mensagens, disse algo assim: “Imaginem-se
pais que se perderam de seus filhos. Imaginem que, um dia, depois de anos de
dúvidas, esse filho bate na porta da sua casa. Faria diferença, para você, se
ele veio de ônibus, de cavalo, de bicicleta? Como você se sentiria em relação à
pessoa que, vendo-o ir de bicicleta, criticasse o seu caminho e fizesse com que
ele retornasse ao ponto de partida, para, então, seguir outro meio que o
levasse ao mesmo lugar?”
O caminho me ensinou
sobre respeito.
O caminho me ensinou
que Deus está presente em todas as portas.
Essa foi a porta em
que eu bati.
Qual foi a sua?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBatemos na mesma porta querida.
ResponderExcluirTali, amo essa tua intensidade, me vejo e me identifico imensamente com os teus textos. É tanto amor que não cabe num só ser ou numa só existência, tem que ser o Todo, tem que ser o Infinito. <3
ResponderExcluirTali, amo essa tua intensidade, me vejo e me identifico imensamente com os teus textos. É tanto amor que não cabe num só ser ou numa só existência, tem que ser o Todo, tem que ser o Infinito. <3
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